MARANHÃO NA LATRINA
vergonha a céu aberto
No dia 23 de novembro de 2024, o Jornal Nacional, da TV Globo,
noticiou que a falta de banheiro dentro de casa é a realidade em quatro de cada
dez moradias no Maranhão — índice superior à média nacional.
O levantamento do Instituto Trata Brasil mostra que a falta de
estrutura é ainda mais grave no Nordeste, especialmente no Maranhão, onde o
problema atinge 13 em cada 100 habitantes, como explica a presidente do
instituto, Luana Pretto (Maranhão Hoje).
No estado, investe-se apenas 25 reais por ano por habitante em
saneamento básico, enquanto a média nacional é de 111 reais — e, segundo
Pretto, o ideal seria investir 230 reais por habitante por ano.
Das 190 mil internações registradas no Brasil em 2022 por doenças
de veiculação hídrica, 30 mil ocorreram no Maranhão, detalha a
diretora-executiva do Instituto de Água e Saneamento.
Em 18 de março de 2024, a Agência Tatu informou que o Maranhão é o
estado com maior número de domicílios sem banheiro no país. Ter um banheiro com
sanitário ligado à rede coletora de esgoto ou a uma fossa é um direito básico.
O estado acumula 73.751 moradias nessa condição — a pior marca nacional. A
capital, São Luís, aparece em segundo lugar entre as capitais nordestinas, com
937 domicílios sem banheiro (Agência Tatu Blog Fuxico do Sertão).
Segundo a Folha de S. Paulo, em 17 de fevereiro de 2002, “uma face
da realidade do Maranhão está estampada na ‘Vila Miséria’, como é conhecida a
comunidade Carlos Augusto, em Paço do Lumiar, na Grande São Luís. Assim como em
grande parte dos 217 municípios do estado, as 2.000 casas da vila não têm rede
de esgoto nem água encanada tratada.”
De acordo com o IBGE, muitas pessoas não têm banheiro em casa — um
problema social que compromete a saúde e a qualidade de vida das famílias.
A ausência de saneamento afeta diretamente a saúde da população, e
as organizações destacam que a principal razão dessa persistência é a escassez
de investimentos.
“Latrina” é um termo que se refere a um local para dejetos humanos.
A palavra vem do latim lavatrina, que significa “banho”, e hoje carrega
conotação menos higiênica que “banheiro padrão” (Dicionário Priberam).
Na Roma antiga, a elite embelezava as cidades com banheiros
públicos, símbolos de progresso e saúde pública.
Na época do descobrimento do Brasil, “latrina” era um espaço
improvisado em que dejetos eram despejados em rios ou fossas que requeriam
esvaziamento.
Atualmente, a falta de saneamento no Nordeste representa um dos maiores desafios à melhoria da qualidade de vida na região.
O Maranhão lidera essa vergonhosa estatística de ausência de
banheiros dentro de casa. Enquanto isso, autoridades públicas batem recordes ao
contratar artistas para eventos com valores exorbitantes.
É lamentável que, em pleno século XXI, o Maranhão ocupe essa
posição vergonhosa em relação à falta de banheiros e de saneamento básico.
Um episódio emblemático foi o depoimento de Maria José Gomes, em
reportagem do Jornal Nacional, moradora de Itapecuru-Mirim que nunca teve
banheiro nem água encanada.
“É para cá que a gente faz, no mato”, contou ela.
Gilmar Pereira Santos é escritor de livros infantis
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