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  O HOMEM-TIJUBINA & OUTRAS CIPOADAS ENTRE AS FOLHAGENS DA MAL Í CIA*   “A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) manifesta imenso pesar pelo falecimento do professor Francisco de Assis Carvalho da Silva Júnior, 35 anos, ocorrido nesta terça-feira (30). Carvalho Júnior era gestor do Centro de Ensino Gonçalves Dias, escola da rede pública estadual, localizada no município de Caxias”.   O professor, ativista cultural e poeta Francisco de Assis Carvalho da Silva Júnior, ou simplesmente Carvalho Júnior, chega pela terceira vez ao ‘Panteon das Letras do Maranhão’ com este seu belo livro de poemas, edição bilíngue, cujo título nomeia este dedo de prosa. O livro é de uma feição gráfica extraordinariamente bonita, a estampar em toda a extensão da capa e contracapa, o desenho mítico do homem-tijubina, impresso em papel linha d’água, poroso como nuvem, onde levitam versos de mestre. O poeta Carvalho Júnior tem pela palavra a mesma fascinação que o lagarto tem pela solidão das p

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  UMA ALBIOQUIMIA POÉTICA               Dentro de cada um deve sorrir um demônio à procura de espelhos (Bioque Mesito)   Desde que o mundo é mundo, os deuses e divas das artes e das ciências oferecem a homens e mulheres comuns o poder de transformar tudo o que existe em seu entorno, inclusive a si próprio, em algo que sirva para o bem coletivo. Dessa forma, cientistas deixam o mundo mais prático e ágil, fazendo com que aquilo que era apenas um desejo distante se transforme em uma necessidade imediata. Mesmo que os seres humanos não tenham, pelo menos por enquanto, conseguido encontrar a tão sonhada fórmula que acabe com todos os problemas do mundo e que seja capaz de transformar as matérias mais comuns em pedras raras e preciosas, algumas pessoas já têm o dom de transformar ideias, palavras e silêncios em peças que emanam a magia da inexplicável perfeição. Os artistas, cada um a seu modo, conseguem irradiar uma aura de mistério em cada trabalho que produzem, sejam estes

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A TARA E A TOGA *   ESTE LIVRO DE WALDEMIRO VIANA, ‘A tara e a toga’ é realmente um romance imaginativo que gira fundamentalmente em termos das relações humanas. Mas não é só isso, o livro é ainda, ao mesmo tempo, um romance histórico, a contar uma tragédia real, vivida por um velho magistrado, que no século XIX, em São Luís do Maranhão, sob o surto de uma violenta paixão senil e de um ciúme incontido, matou com resquícios de crueldade e volúpia, uma jovem moça dos arrabaldes da Ilha, por quem sentia satânicos desejos. É ainda o livro, uma história romanceada, em que Waldemiro Viana adverte o leitor que o texto não se prende à verdade exata dos fatos, sugerindo cautela aos “puristas da História em sua santa Ira”. E por que diz isso? Por que “em prosa clara, viva e saborosa, arquitetada com magistral competência técnica”, ele conduz a urdidura real e romanesca, a seu modo, levando-a por caminhos e temperanças ficcionais, sem, no entanto, arredar-se do objeto maior, que é a própria

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  CENAS DO CARNAVAL PANDÊMICO           2021, o primeiro não carnaval da história, acreditem, já estava previsto há muito tempo. Não pelos profetas, pelos astrólogos ou pelos bruxos. O primeiro não carnaval da história, foi previsto pelas marchinhas de carnaval, nas entrelinhas de suas deliciosas letras, as quais, mudando uma palavrinha aqui outra ali, praticamente anteciparam o que aconteceu no carnaval deste ano. 1.“Mas este ano não vai ser igual àquele que passou. Eu não brinquei, você também não brincou. E aquela fantasia que eu comprei ficou guardada. E a sua também ficou pendurada. “ A marcha acima intitulada Até quarta-feira, de Paulo Sette, fez grande sucesso em carnavais da década de 60 e 70. Parece que foi feita para o Não Carnaval de 2021, não é mesmo? 2.”Tanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão. O arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão (...)   Essa marcha-rancho de Zé Keti, sucesso absoluto de vários carnavais tro

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MUDOU O CARNAVAL OU MUDAMOS NÓS? – reflexões para quando o Carnaval voltar   Machado de Assis cunhou uma frase muito citada aqui e alhures: “Mudou o Natal ou mudei eu?”  O sucesso da questão contida nessa frase é que ela se presta   a diversas ocasiões e corresponde às dúvidas de muitos que se perguntam se são saudosistas ou se realmente as coisas mudaram para pior. A tendência geral é achar que os tempos passados é que eram os bons tempos, melhores que os de hoje, quando a verdade é que, na infância e juventude, sentimos, gozamos e amamos no superlativo. Tudo é MAIS, não só a alegria, mas também tristezas e dores. Mantendo a equação, troquemos alguns termos: o carnaval mudou para pior ou mudamos nós? Aprendemos que, desde os festejos dedicados a Dioniso e através dos séculos, o carnaval foi sempre o momento máximo de suspensão da censura e inversão dos códigos vigentes. Inversão de sexos, de papéis sociais, de temperamentos. Nele, homens sisudos vestem-se de mulher, a doméstica

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  SEGURANÇA   - Segurança é algo muito conveniente, na minha idade. A frase de Arnaldo saiu necessária, naquela gôndola da seção de iogurte, margarinas e leite pasteurizado, do supermercado aonde ia, todas as semanas, fazer sua despensa.  E foi dita a respeito do comentário que o vizinho fez da senhora que reclamou do desemprego, na prateleira dos embutidos. Talvez, se fosse outra pessoa a dizer aquela frase, ele não tivesse dito “conveniente”, mas “imprescindível” ou “justo” ou mesmo “de responsabilidade governamental”. Qualquer dessas palavras politicamente corretas. Mas Arnaldo estava na companhia do vizinho, com quem convivia há mais de 40 anos, e com quem se sentia à vontade para dizer o que realmente pensava. Com o vizinho falava coisas preconceituosas contra gays, contra pretos, falava dos seios enormes da moça que atendia no caixa preferencial, falava bem da classe a que pertencia, elogiava o governo com orgulho. Arnaldo era militar aposentado de alta patente. O que

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UMA VICTORIA DA LITERATURA BRASILEIRA No artigo anterior, comentei que há certa dificuldade (ou mesmo desinteresse) na divulgação dos livros e dos autores brasileiros entre as novas gerações de leitores. É realmente lamentável que alguns talentosos escritores continuem praticamente desconhecidos diante de uma multidão de jovens leitores que preferem mergulhar nas águas da literatura estrangeira sem preocupação em pelo menos conhecerem o que se produz na própria terra. No entanto, felizmente, há alguns escritores que têm conseguido consolidar seus nomes mesmo diante de tantas adversidades. É o caso do jovem romancista e roteirista Raphael Montes, que vem despontando como um dos bons nomes da ficção nacional. Nascido no Rio de Janeiro, em 1990, o escritor vem, desde 2012, publicando livros que mesclam pesquisas, abordagens psicopatológicas, suspense e elementos do que há de melhor da literatura policial. Ele é autor de Suicidas (2012), Dias perfeitos (2014), O Vilarejo (2015), Bom

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LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO* [Lauro Bocaiuva Leite Filho, São Luis, 19.12.1937 – São Luis, 8.10.2016] Soltando um rolo de fumo inglês do cachimbo, o professor Bacelar Portela, meu querido amigo e orientador de como pesquisar e traçar as linhas para a composição de um texto a ensaiar, apressou-se em dizer-me, na Praça Bendito Leite, numa ensolarada manhã de um dia qualquer, que Lauro Leite tinha sido o grande vencedor do concurso literário ‘Antônio Lôbo’, promovido pela Academia Maranhense de Letras, cabendo a Nauro Machado e a mim, o segundo e o terceiro lugares respectivamente... Ao cumprimentá-lo, disse-lhe: “ao vencedor as batatas”, lógica do ‘velho bruxo’ que reconhece o vitorioso por justas merecidas... E o querido mestre sorrindo, sentenciou: “a poesia de Lauro Filho merece estudos mais profundos”. Domingos Vieira Filho, foi mais longe na apresentação do livro premiado, em dizendo que Lauro Leite “desta vez está mais maturado, tem uma vivência poética mais intensa, s

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  A ÚLTIMA NOTÍCIA   Eram 11 da noite, e eu já me preparava para o conforto da minha cama. O telefone tocou. Uma voz pausada e triste me dá uma notícia indesejada. Mal podia acreditar no que estava ouvindo. ― Liguei pra te comunicar que o Betinho morreu. ― Betinho, o irmão do Éder?! ― Isso mesmo. Anteontem. Acidente de moto. Do outro lado da linha, um velho amigo da época em que, recém-casado, cheguei ao Jardim Alvorada, bairro de classe média baixa da minha cidade. Lá fiz bons amigos, e o Érico era um dos mais chegados, quase um irmão. Depois do futebol de salão no sábado à tarde, a gente se reunia no bar da Vilma para tomar cerveja, comer mocotó e jogar conversa fora. Só saíamos depois das dez. Era o momento mais esperado, quando a gente discutia sobre o jogo: uma falha do zagueiro, um frango do nosso goleiro, um golaço meu. Também havia as polêmicas sobre futebol, política... fofocas. Sinuca, e muita brincadeira. Algumas até de mau gosto, como, por exemplo, pôr no copo