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Mostrando postagens de setembro, 2020

Conversas vadias

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  O Romanista Abelardo Saraiva da Cunha Lobo*   Abelardo Saraiva da Cunha Lobo, autor de ‘Curso de Direito Romano’, “com certeza confirmou o elo entre o Maranhão e as ideias jurídicas no Brasil ao escrever a história interna do Direito Romano [...] vez que excedeu na exposição de seu direito público, chegando a pretender, do ponto de vista externo, realizar a evidenciação de sua influência universal em seu projeto interrompido pela sua morte em 1933” diz-nos o Professor Doutor Rossini Corrêa em seu belo livro ‘Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia’, São Luís, 1993. Este livro de Abelardo Lobo é uma reedição do Centro de Estudos de Direito Romano e Sistemas Jurídicos da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília – UnB. O projeto gráfico do Senado Federal, carinhosamente elaborado por Joaquim Campelo, é o de n° 78, contendo 662 páginas, com prefácio do Professor Doutor Francisco de Paula Lacerda de Almeida, Catedrático de Direito Civil da Universidade Fed

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  VENDE-SE UM COLÉGIO                 A placa diz: “Vende-se. A tratar com...”. Podemos nos informar com o corretor encarregado da venda. Já sabemos que se trata de um colégio, de tanto passar por ali e ver a movimentação saltitante de crianças de uniforme, mochilas às costas, acompanhadas   de seus portadores, entrando e saindo às horas em que se deve entrar e sair de uma escola.         O corretor certamente informará dos metros quadrados do terreno, área construída ou não, da existência de quadras de esporte, uma piscina, o parquinho infantil com a sua indispensável caixa de areia, um auditório com cadeiras e um palco, salas e mais salas de tamanho mais ou menos igual e outras tantas coisas de ordem material   componente de um imóvel que abrigou uma escola durante anos. Ele, o corretor, para valorizar a venda, poderá sugerir novos usos e destinações para o imóvel. Um clube, um edifício de escritórios ou até – pensado, mas não dito - um lugar, digamos, para abrigar negócios m

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  SETE PERGUNTAS PARA UMA DAMA   Ao completar mais uma festa de aniversário, conseguimos um horário exclusivo com a mais importante dama de nossa sociedade. Fomos bem recebidos em um de seus casarões castigados pelo tempo e, enquanto eram servidos bolinhos de tapioca e suco de cupuaçu, ela, aparentando bastante cansaço, nos falou um pouco de seu passado, de suas angústias e de suas alegrias. Eis a seguir a entrevista na íntegra. PERGUNTA : Qual é realmente a sua origem? RESPOSTA : Minha origem está coberta pelas névoas da dúvida. Eu e alguns de meus filhos já nos preocupamos muito com isso. Já disseram que sou de origem francesa, portuguesa... Mas hoje deixo essas questões para os estudiosos, pois acho que isso talvez não influencie tanto em meu atual estágio. PERGUNTA : E qual é o seu estágio atual? RESPOSTA : Eu me sinto abandonada há muito tempo. Isso não vem de agora, mas de muito tempo mesmo. Pela minha história, creio que mereceria um presente bem melhor que uma mera

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Silêncio em Família*   José Maria Nascimento nasceu em São Luís do Maranhão, em 18 de setembro de 1940. Eu te saúdo poeta a beijar essa bela alma, por tua chegança à Lira dos Oitent’anos! Silêncio em família é o segundo livro que rebenta do angélico estado d’alma de José Maria Nascimento, publicado recentemente [lê-se: no longínquo 1968], depois de ter ganhado, em concurso literário, o Prêmio Gonçalves Dias. É um livro humano, identificado com o poeta, sensível e sofrido, acima de tudo: “Basta-me a chuva dos olhos dos que na chuva adormecem”. E parte delirante formalizando seus íntimos pedaços de angustias: “Na mesa, os pratos e a inocência do passado./Um olhar de mãe que já se cala/ quando o vinho do copo é derramado./ A lenha, no fogão, ainda estala./ A mãe, exausta se levanta e o filho embriagado canta”. A poesia de Nascimento é viva, atuante, dolorida, terrivelmente lírica e às vezes misteriosa, tem muito da cadência angustiante de Paul Verlaine: “Sur votre jeune, sein laissez roul

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A tecnologia e a falta de diálogo    São Paulo julho de 2020, eram 7 horas de uma terça feira de muito frio, para quem vive no nordeste, 12 graus é frio demais para quem convive com 32 graus do meu querido Maranhão. Acordo lembrando de compromissos, primeiramente teria de ir até o laboratório colher e realizar meus exames, assim daria início do meu check-up anual, Mais tarde iria ao lançamento de um livro de poemas escrito por um amigo.  Apressadamente levanto tomo meu banho, visto a roupa e me dirijo ao laboratório, imaginava que estaria já atrasado, peguei o táxi e em 10 minutos estava na porta do laboratório, esqueci de mencionar a cara do motorista quando falei o endereço, em outras palavras ele havia trocado talvez uma corrida que lhe desse mais remuneração por uma com menos, após o pagamento logicamente lembrando da fisionomia do motorista dei uma gorjeta, até consegui receber, um tenha um bom dia, e muito obrigado! Chegando à recepção fui imediatamente identificado, pois

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 A BUNDA COMO PALAVRA   Vinte anos atrás circulou em todo o Brasil a revista chamada BUNDAS, com conteúdo de humor político na linha anteriormente seguida pelo famoso jornal O Pasquim, inclusive contando em sua equipe com alguns jornalistas remanescentes do antológico semanário que marcou época. Há uma semana, surpreso e quase completamente esquecido da mesma, resgatei alguns exemplares dessa revista num sebo. Em uma de suas edições, a de número 48, deparei com uma matéria de Sérgio Augusto, um de seus colaboradores,  em que este apontou a palavra Bunda como a mais bonita da língua portuguesa. E explicou o motivo:  “Tenho para mim que quando alguém me pede uma palavra bonita a escolha seja ditada mais pela eufonia do que pela expressividade semântica. É o som e não o sentido, que embeleza ou enfeia um vocábulo. Pelo menos os poetas deveriam saber disso. Alguns dos nossos não sabem, daí o prestígio de vocábulos como liberdade, esperança e democracia, entre os bardos da terra. Ba

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MODA Vs. CLIMA                                                                                                      Nos escaninhos da minha memória, a figura do meu avô Henrique está sempre acompanhada do seu chapéu. Ir à rua de cabeça descoberta? Nem pensar. O homem empertigado, elegante no seu terno, e o chapéu bem posto formavam um conjunto indissociável. Muitos homens de sua geração cultivavam o hábito saudável de andar com a cabeça coberta protegendo o rosto dos malefícios do sol, mesmo após o uso corriqueiro dessa peça do vestuário ter saído de moda. No caso de vovô, a proteção se estendia a uma vasta e reluzente careca. Eu só não entendia porque os chapéus de feltro – lembro os da marca Ramenzoni - eram preferidos aos de palha italiana ou aos chamados panamás, furadinhos, se nosso sol, apesar da fartura dos ventos desta Ilha, sempre foi de fritar ovo em calçada em qualquer estação do ano.  Para falar de inadequação vestuário/clima, precisamos nos remontar ao quesito desenv

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  ROTINAS   Todos os dias, invariavelmente, Eusébio punha a mesa para o café, almoço e jantar. Café às 7h10min, depois de distribuir, sobre um pano de prato com a cara do Mickey que ele comprou na Feira Hippie, em Belo Horizonte, a xícara de café com leite em pó e adoçante, o mamão e a banana num prato do lado direito da xícara e as quatro torradas, duas com manteiga, duas com geleia, do lado esquerdo. Em posição paralela à xícara, o copo de suco pela metade. Ao lado do suco, os três comprimidos. Almoço era a mesma distribuição geográfica sobre a mesa, mudando apenas as substâncias sobre os pratos e, claro, sumindo a xícara – que voltava no jantar, acompanhando outras torradas, mas desta vez sem as frutas. Almoço às 12h15 e jantar às 19h20. Era assim. Sempre. “Pra quê mudar?”, ele dizia, toda vez que Horácio lhe perguntava por que tanta racionalidade nessa rotina. “Moro só. Isso me dá a possibilidade de ter a rotina que eu quiser. Foda-se quem não gostar”. “Um dia, você ainda

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  MIMI, O METALÚRGICO   Reproduzo este texto do jornal A Carepa, da Faculdade de Engenharia Metalúrgica   da UFFRJ, Volta Redonda, escrito por mim há vários   anos quando nos formamos, e que andava extraviado. Trata-se de uma crônica, em tom jocoso, sobre a vida de um metalurgista, usando termos do cotidiano siderúrgico.       MIMI, o metalúrgico, é um rapaz muito esquisito. Sem cor definida ( terá   entrado fumaça em sua pele?) passa nas ruas indo ou vindo do trabalho, como um objeto- muito- identificado. É MIMI, o metalúrgico. A sua cabeça, de tanto carregar um capacete, tomou a forma deste, de forma que onde se viam olhos, boca, nariz hoje se vê, com mais perfeição, as letras CSN. Os   seus membros, tão desconjuntados, parece que se mantêm aderidos ao tronco, graças a uma inevitável ‘soldagem’ , e seu tronco terá sofrido uma ‘trefilação” , posto que tão magro que dá pena. Enfim, quem olha MIMI diz imediatamente: precisa de urgente tratamento. MIMI já havia pensado nisso

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A(S) CIDADE(S)   QUE ME HABITA(M)            Moro numa mesma cidade em duas dimensões diversas, em uma ando lesta, passos firmes, passada elástica; em outra ando lenta, passos cansados, pisada incerta. Em ambas, sinto a mesma brisa de todos os setembros, tenho o olhar aguçado para o caleidoscópio das cores dos poentes, e para os detalhes dos casarios, o semblante das pessoas, o vai-e-vem das ruas, seus sons e   cheiros. Cruzo a Ponte José Sarney, sobre o braço do Rio Anil, rumo à Beira-Mar, os ônibus fumarentos disputam espaço com automóveis e motos, as frondosas figueiras benjamim que dividem as duas pistas levantam-se, copadas, retomando   seu lugar, e eu desço a rampa do Cais da Sagração para entrar na canoa de vela azul de Pedro Olhudo, com meus filhos, contornando as c’roas, rumo à Praia da Ponta d’Areia, moradia de pescadores e lugar paradisíaco e quase deserto. Vou conferir as reformas feitas na Praça Deodoro, olho com prazer o Pantheon refeito, os espaços largos agora l