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SETE PERGUNTAS PARA UMA DAMA
Ao completar mais uma festa de aniversário,
conseguimos um horário exclusivo com a mais importante dama de nossa sociedade.
Fomos bem recebidos em um de seus casarões castigados pelo tempo e, enquanto
eram servidos bolinhos de tapioca e suco de cupuaçu, ela, aparentando bastante
cansaço, nos falou um pouco de seu passado, de suas angústias e de suas
alegrias. Eis a seguir a entrevista na íntegra.
PERGUNTA: Qual é realmente a sua
origem?
RESPOSTA: Minha origem está coberta pelas névoas da dúvida.
Eu e alguns de meus filhos já nos preocupamos muito com isso. Já disseram que
sou de origem francesa, portuguesa... Mas hoje deixo essas questões para os
estudiosos, pois acho que isso talvez não influencie tanto em meu atual estágio.
PERGUNTA: E qual é o seu estágio
atual?
RESPOSTA: Eu me sinto abandonada há muito tempo. Isso não
vem de agora, mas de muito tempo mesmo. Pela minha história, creio que
mereceria um presente bem melhor que uma mera maquiagem e umas peças novas de roupa
para esconder minhas mazelas. Mas parece que é só isso o que terei.
PERGUNTA: Fale um pouco de seu
passado.
RESPOSTA: Passei por diversos
momentos. Vivi em pobreza extrema na infância e depois, na juventude, conheci a
opulência e a riqueza que fizeram de mim uma das mais importantes deste Brasil.
Mas depois tudo declinou e acabei nessa decadência em que me acho agora.
PERGUNTA: Pode dizer alguns
nomes?
RESPOSTA: Dizer nome é sempre
algo muito perigoso, pois fatalmente esquecemos o nome de alguém. Mesmo assim
vou arriscar a citar alguns filhos e filhas – próprios ou adotivos – que me
imortalizaram em suas obras de arte: João Francisco Lisboa, Aluísio Azevedo,
João Mohana, Josué Montello, Luis Augusto Cassas, Arlete Nogueira, Ferreira
Gullar, Nauro Machado, Bandeira Tribuzi, José Chagas, Carlos de Lima, César
Nascimento, Beto Pereira, João do Vale, Conceição Neves Aboud, Joaquim Itapary,
Antônio Almeida, Luiz Alfredo Neto Guterres... Minha memória é fraca, mas todos
os que dedicaram uma palavra, um acorde ou uma pincelada para mim moram em meu
coração. Agora, se me permite, queria descansar um pouco. Está chegando a hora
de mais uma homenagem. Espero que seja sincera.
José
Neres escreve às segundas-feiras para
o Textual.
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