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Mostrando postagens de junho, 2020

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O PIANO   Todos os domingos eu ia religiosamente à igreja. Mas não ia pra orar nem pra louvar ao Senhor nem nada dessas coisas de palavra de Deus, não. Eu ia era pra ver ela tocar piano. Ela era uma visão do céu, parecida com aquelas imagens de anjo que eu via no meu livro de catecismo, quando era guri. E a música que ela tirava do piano era maravilhosa. Eu chegava cedo na igreja e me sentava bem na frente de onde o piano ficava, esperando a hora dela chegar. Ela entrava, normalmente, uma meia hora antes, para passar as músicas. Trazia um caderninho, que um dia eu vi cheio de uns sinais estranhos, deviam ser as notas musicais que ela tocava. Sentava no banquinho, abria o piano, botava o caderninho numa espécie de prateleirinha, onde ele ficava penduradinho e dando exatamente para ela ver os sinais e tocar por eles. Tocava sem acompanhamento. Era uma igreja tradicional, muito silenciosa. Nada daqueles cultos cheios de guitarra, bateria, baixo que mais parecem um show de rock, com

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AS PORTAS FUGAZES DE RODRIGO C. PEREIRA   Às vezes começo a pensar: “quantos alunos será que já tive nessas quase três décadas ininterruptas de atividade docente?” A resposta é sempre a mesma: “Não sei”. Calculo que, tenham sido aproximadamente uns 40 a 50 mil, somando-se ensino fundamental, médio, superior, pré-vestibulares e pós-graduação. Mas, sinceramente não sei. Mas a quantidade sem sempre é o mais importante. Bom é todas as noites, depois de um dia árduo de trabalho, poder deitar-me com a consciência tranquila de haver tentado fazer o possível para que cada um dos alunos daquele dia tivessem a melhor aula possível e que os conhecimentos compartilhados fossem úteis para o futuro daqueles jovens e adultos que tentavam aprender, às vezes diante de múltiplas adversidades. Nessas lides diárias com a Educação, há os alunos e alunas que passam pela sala de aula e que tomam destino ignorado, mas também existem aqueles que rompem a esfera da relação docente/discente e passam a fa

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Hoje não trarei um texto meu (Antonio Aílton), mas um texto do Prof. Paulo Franchetti, da Unicamp, que em minhas leituras achei muito pertinente e enriquecedor, a nós que lidamos não só com a poesia contemporânea, mas também com a crítica dessa poesia e com a escrita como um todo, para que possamos repensar as nossas abordagens. Compartilho-o na certeza de que talvez contribua mais do que o que tivesse a dizer neste dia. Abração a todos e boa leitura.     CONSIDERAÇÕES SOBRE CRÍTICA DE POESIA CONTEMPORÂNEA     Prof. Dr. Paulo Franchetti (Professor titular da Universidade Estadual de Campinas, SP.)     Uma das vantagens da aposentadoria é poder rever a forma do discurso que nos habita quando estamos imersos no dia a dia da vida acadêmica. Na verdade, tenho para mim que essa possibilidade é tão recompensadora quanto outras, mais geralmente reconhecidas, como a de poder ler o que quiser no tempo que quiser, poder ouvir música tanto quanto apetecer, viajar sem preocupação

Conversas vadias

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CANTIGAS DE ONTEM E SEMPRE...*   Recebi há poucos dias pelos correios [lê-se: agosto de 2018] ‘Canções de Roda nos pés da noite’, que é na ordem cronológica de publicações, o 44º livro de Nauro Machado e ‘Colheitas’, de Arlete Nogueira da Cruza; o primeiro, Nauro, nos estertores da morte, pedira à Arlete, sua mulher, que o fizesses de logo publicar dentre seus trabalhos inéditos, vez que este livro é dedicado às netas Luísa e Júlia, filhas do cineasta Frederico Machado, filho único e herdeiro da eugenia brilhante do casal. O outro exemplar, ‘Colheitas’, é uma antologia poética de Arlete Nogueira da Cruz, a enfeixar poemas de ‘Canções das horas úmidas’, 1973; ‘Litania da velha’, 1996/7 e ‘O quintal’, 2013/14. Essas duas lembranças vieram acompanhadas de um terno e generoso bilhete de Arlete, a falar da dimensão do tempo que a assoberba de afazeres, bem como da nossa tríade saudosa, querida e fraterna... Juro que meus velhos e míopes olhos lacrimejaram... Realmente, o tempo é imp

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MEU PRIMEIRO GOL, MINHA DOR   Todos nós sempre temos uma primeira vez em tudo, o primeiro beijo, o primeiro abraço, a primeira namorada. Vou deixar de lado os assuntos sentimentais, escreverei hoje de um fato acontecido na minha infância, que a princípio me vez muito feliz e que logo depois se tornou um pesadelo. Como era de costume todos os sábados após o almoço, pegava o ônibus da viação São Luís, linha Anil e me dirigia para passar uma tarde muito agradável, na companhia de muitos amigos, uma tarde entre paqueras, futebol e outros divertimentos, no saudoso clube Jaguarema. Ao chegarmos ao clube, éramos recebidos pelos funcionários da portaria que, logicamente, pediam a identificação de cada associado. Devo informar que embora fosse um clube social com muitos associados, o Jaguarema funcionava como uma grande família, dos diretores aos funcionários, incluído os garçons. Todos se cumprimentavam e se falavam com distinção, os garçons sempre prestativos eram uma marca do clube,

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A PALAVRA-LAVA-MAGMA-EXPLOSÃO DE FERNANDO BRAGA   Fernando Braga é um poeta referencial pelo qual nutro muito afeto e admiração. A poesia dele é “densa de conteúdo e expressão” como assegurou ninguém mais ninguém menos do que Carlos Drummond de Andrade. O cântico de Fernando já foi celebrado por Thiago de Mello, Josué Montello, Cassiano Ricardo, Oswaldino Marques, Nelly Novaes Coelho, isso para citar apenas alguns poucos nomes entre tantos que reconhecem e confirmam o talento e a substância da obra do poeta, autor de “Campo Memória”, um canto de amor a São Luís. Tenho Fernando como um irmão que os caminhos da poesia me deram. Uma das pontes para nossa aproximação foi o saudoso poeta Déo Silva, com o qual Fernando Braga teve a oportunidade de trabalhar e conviver. Fui presenteado por Fernando com o livro “Magma” (Editora Kelps, 2014), sendo que, em tal volume de poesia, Fernando se revela, nas linhas e entrelinhas, o mesmo menino de sempre, com as “muitas marcas da vida”. O poeta

Mural

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A NOVA ONDA DA FLEXIBILIZAÇÃO             O Pequeno Dicionário da Pandemia não para de crescer, com o surgimento de novas palavras e expressões: 1.Flexibilização. Esta palavra acabou se tornando, de uma hora para outra, a da moda, substituindo a Pico (da Pandemia) que reinou durante algum tempo. Agora só se fala em flexibilização.   Acontece que, como o tal do Pico, que se escondeu e, definitivamente, ninguém sabe onde se meteu, o que era para vir somente depois dele, surgiu e se estabeleceu.   Mais ou menos na base do: “Já que esse Pico não chega, vamos de Flexibilização.” Quanto ao que isso significa, bem... Flexibilização é daquelas palavras que ninguém sabe ao certo de que trata, virando moda por isso mesmo. Vem de flexível que significa adaptável, porém, o termo agregado ao mesmo tem vários tons a mais de versatilidade, ou seja, de flexibilidade. Na prática o sujeito flexível é aquele que fica em cima do muro e nunca se sabe se é ou se não é, o que quer ou o que não que