Textual
A NOVA ONDA DA
FLEXIBILIZAÇÃO
O Pequeno Dicionário da Pandemia não para
de crescer, com o surgimento de novas palavras e expressões:
1.Flexibilização. Esta palavra acabou se
tornando, de uma hora para outra, a da moda, substituindo a Pico (da Pandemia)
que reinou durante algum tempo. Agora só se fala em flexibilização.
Acontece que, como o tal do Pico, que se
escondeu e, definitivamente, ninguém sabe onde se meteu, o que era para vir
somente depois dele, surgiu e se estabeleceu.
Mais ou menos na base do: “Já que esse Pico não chega, vamos de
Flexibilização.”
Quanto ao que isso significa, bem... Flexibilização
é daquelas palavras que ninguém sabe ao certo de que trata, virando moda por
isso mesmo. Vem de flexível que significa adaptável, porém, o termo agregado ao
mesmo tem vários tons a mais de versatilidade, ou seja, de flexibilidade. Na
prática o sujeito flexível é aquele que fica em cima do muro e nunca se sabe se
é ou se não é, o que quer ou o que não quer, o que sabe ou que não sabe, enfim,
um adaptável. Já que a humanidade anda querendo se adaptar ao Novo Vírus, cai
como uma luva para os dias atuais.
Flexibilizar, na atual conjuntura, significa
dizer que se está fazendo isolamento social, mas nem tanto, saindo de casa, mas
nem tanto, vivendo mas não tanto, enfim, o que significa também dizer: morrendo, mas não tanto, a se julgar pelas
mortes invisíveis ou não computadas.
Seu equivalente religioso é O Agnóstico, aquele
que diz não acreditar em Deus, mas nem tanto. Para consumo externo este aprecia
propagar que não acredita em Deus, mas admite, sim, a possibilidade de que ele
um dia possa aparecer balançando um paraquedas na hora em que estiver caindo do
seu avião, já que, via de regra são os agnósticos os primeiros a implorar por Deus
nessas situações. Ou seja, agnóstico é aquele que acha conveniente passar a
imagem de conhecedor profundo da Ciência, negando tudo o que não se pode provar,
como querem os cientistas, mas que, por via das dúvidas, também teme que sua
alma um dia possa ressuscitar como um corona vírus para sofrer por todos os
seus pecados. Enfim, o agnóstico, ou o flexível,
é aquele de quem Jesus Cristo disse: “Prefiro os quentes ou os frios, porque os
mornos, esses eu os vomitarei. “
NOVA ONDA. É um termo que surgiu para
contrabalançar qualquer tentativa de otimismo em relação ao Corona-Vírus. Tão
acostumados ficaram os seres humanos ao pavor dominante transmitido pela mídia que
repetem: ‘Tá sorrindo? Não perca tempo! Vem aí a Nova Onda!’ Significando que não adianta aos que
sobreviveram pular, gritar sorrir, que lá vem morte de novo.
Eu só não estava entendendo era o termo Onda,
tão poético, estar se metendo nisso. Bons
tempos aqueles do “como uma onda no mar” de Lulu. A meu ver o nome do pavor deveria
ser: Nova tragédia, Nova Catástrofe, Nova aporrinhação! até que, coisa de uma
semana atrás acabei descobrindo.
Assim como se atribuiu ao coitado do morcego a
proliferação do monstro invisível, agora se começa a desconfiar de uma nova onda
catastrófica, desta vez a partir do salmão, tanto assim que os chineses, sempre
eles, estão proibindo a importação do salmão chileno.
Onda, Salmão, tudo a ver, não é?
Coitados dos salmões! Dos morcegos! E de nós!
José Ewerton Neto escreve às quintas-feiras para o Textual.
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