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Mostrando postagens de agosto, 2020

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  BRINCANDO COM AS PALAVRAS   A Cayro Léda e Natasha Memória   Gosto de me divertir imaginando o que fazer com as palavras. Acho interessante como cerca de duas dúzias de letras são capazes de reproduzir em palavras quase tudo o que sentimos ou imaginamos. Como nem sempre tive à minha disposição artefatos que pudessem ser manuseados como se fossem brinquedos para ajudar a passar o tempo, desde a primeira infância comecei a transformar palavras em jogos mentais que me pudessem conduzir a outras realidades. Em troca, as palavras deram-me tudo o que tenho. Sou grato a elas, que são minhas amigas e companheiras em todos os momentos. Lembro-me que no final de 2003, um aluno chamado Cayro Léda, que hoje brilha nas áreas de atuação que escolheu, me ofertou um livro intitulado “Abelhas Assassinas”, de Nygel Filho. O livro é uma novela na qual todas as palavras são iniciadas com a letra A. Mas junto com o livro veio também um desafio: escrever um conto no qual as palavras também com

Conversas vadias

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  AMARAL RAPOSO, UMA LEGENDA! *   José Raposo Gonçalves da Silva [Grajaú, Maranhão, 27 de maio de 1903 – 10 de abril de 1976] usava o pseudônimo de Amaral Raposo, e era, o que se pode dizer, com todas as letras, um homem extraordinário. Relembro Amaral com muita saudade, honrou-me com sua amizade, ensinou-me muitas coisas, me divertiu com suas histórias e me fez ouvir muitas canções bonitas [músicas e versos seus] acompanhados pelos acordes que magicamente produzia em seu violão, companheiro inseparável de memoráveis serestas. Filólogo, Amaral era um purista do nosso idioma, sempre na espreita para apontar alguma asneira que descobrisse em ultraje à língua em que Camões cantou o bravo peito lusitano e que também pediu esmolas, gestos que levaram o professor Sebastião Jorge a registrar que Amaral Raposo “não tolerava escorregões, nem pequenos deslizes por parte daqueles que se aventuravam em fazer acrobacias na superfície imaculada de uma página de jornal ou de um livro.” Fernan

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  MINHA DESPEDIDA   Na última quarta-feira, tive uma notícia muito triste, a perda de um grande amigo. Ele era uma das maiores inteligências que conheci, um memorialista fantástico, que descrevia, como ninguém, fatos que, para quem o escutava, sentia como se estivesse em um cinema. Ele falava do que nossa São Luís passou politicamente e do seu desenvolvimento. Descrevia o crescimento da economia do Maranhão nas épocas áureas do algodão, do babaçu, o crescimento dos grandes comércios e armazéns da Praia Grande, das fortunas de nossos conterrâneos. Sabia com detalhes da situação políticas do nosso estado. Meu amigo descreveu com detalhes fatos políticos, como a greve de 1951, quando a população de nossa cidade se reuniu para impedir que o Governador Eugênio Barros tomasse posse. O povo em marcha se dirigiu à praça Pedro II, encontrando ali a polícia militar de prontidão. À frente da passeata, empunhando a bandeira brasileira, ia o nosso lendário “Bota pra Moer”, uma figura folclóri

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  OS POETAS AINDA TROCAM CARTAS   Um dos meus melhores amigos e interlocutores, o poeta Antonio Sodré me escreveu algumas cartas que muito me emocionam por sua partilha de palavra-humanidade. Sodré é poeta dos bons e tem uma aguçada visão crítica. Quero compartilhar uma carta desse nobre amigo em que ele comenta sobre o meu livro mais recente. Dediquei-lhe um poema que integra o livro e que reproduzo, aqui, logo depois das palavras do Antonio.     A carta (reprodução integral)   Carvalho,   Escrevo-te com certa urgência, por isso o uso das teclas e não da caneta esferográfica, porque não quereria que o ano findasse sem que soubesse o que tenho a te dizer sobre o teu mais recente livro de poemas – e que poemas. Primeiramente, não li o prefácio escrito por Celso Borges, pois quis me ausentar de qualquer influência, ou como dizem por aí, de algum spoiler literário. E cá entre nós, Celso Borges não é qualquer spoiler. Fico contente que mais e mais poetas com uma trajetória

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  MEU NOME É IGOR   Meu nome é Igor. Assim mesmo, sem o acento. Só depois soube que foi um erro do escrivão, que Igor, na verdade, é escrito com acento (Ígor!!), puxando o som do I, porque é paroxítona. Aprendi na oitava série. O escrivão que errou e ficou assim. Foda-se! Não vou morrer por causa disso. Vim parar aqui porque minha mãe me trouxe. Me trouxe quase amarrado, não queria vir pra cá. Não queria nem saber disso. Mas minha mãe disse que era pro meu bem, que eu ficaria melhor aqui. Tentou me convencer. Mas eu não quis ser convencido. Tentou me trazer me ameaçando. Não resolveu também. Daí ela chamou aquele vizinho, que me jogou dentro do táxi e veio comigo até aqui, segurando meu braço. Um leproso. Doido pra comer a minha mãe, só por isso fez esse esforço todo. Podia ter dado um soco na cara dele, quando me soltou aqui dentro. Mas não dei. Já foi. Aqui não é tão ruim. Depois de um tempo, a gente se acostuma. Tem umas coisas legais, sim. Tem a música, que eu gosto. Toda s

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QUÍMICA E POESIA: REAÇÃO PERFEITA   A Ildenice Monteiro, Odair Monteiro, Rogério Teles, Emanuel Gomes e Joel Praseres, professores de química e de vida.   Na escola tradicionalmente nos ensinam que poesia e química são duas disciplinas distantes entre si, com métodos de ensino e de aprendizagem totalmente diferentes e que não se cruzam nos meandros dos labirintos curriculares. No entanto, a vida nos mostra a todo momento que tanto uma quanto outra estão em toda parte. São ciências, são artes que se tocam, podem se amar e até mesmo reproduzirem, quando são cultivadas em um terreno propício para ambas. Muitas pessoas acreditam que quem mergulha no universo das chamadas ciências exatas acaba perdendo a sensibilidade poética e se contenta com fórmulas, números e tabelas. Mas não é bem assim, conforme pode ser visto em um rápido passar de olhos pela biografia de intelectuais que produziram bons trabalhos tanto nas ciências quanto nas artes. Escritores de altíssimo nível literári

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  Cedo lugar, no texto de hoje, ao editor e poeta (ou poeta-editor) Alberico Carneiro, que fala do poeta e seu duplo, este homem-ciborgue.   O POETA, O FRANKENSTEIN DO INTERDITO Alberico Carneiro   Alguém da comunidade humana diz: - Aquele ali é poeta! – Então, a pessoa assinalada passa a ser observada com um olhar enviesado. Não é fácil argumentar que poeta seja uma entidade e que o ser humano em que habita, um cidadão comum e normal, que se apresenta com carteira de identidade e CPF, é apenas um hospedeiro, portanto, como tantos, um humano comum, circunstancial, cotidiano, tributável, de rota e rotina e, às vezes, banal como um pária social. Mas, apesar disso, de vez em quando ou até, constantemente, dependendo de quando a entidade baixa e incorpora, se torne um tanto diferente, estranho, excêntrico. Um ou outro, contrariando a regra geral, arrisca dizer que, naquelas circunstâncias do transe, tratar-se de um ser iluminado, provido de poderes mágicos. O que, dependendo do tem