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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Conversas vadias

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  MOTIVOS DA POESIA DE JAMERSON LEMOS*   “Da alta e profunda-idade, ao irmão e amigo Fernando Braga”:   “Olha: passamos a ponte. / Apontes outro caminho / Atravessaremos o incêndio, / outra paisagem rumo. / As pás e paz: / cavemos caverna / alma inverna. / Passamos do instante. / Olha: como sopramos azuis, pardos, vermelhos? / estamos sós, somente / apenas mente nos molhamos. / Ainda o centro, a mesa gira, / a ponte partiu para o fim, / por que rimos?”   De vendedor de apólices de seguros pelas ruas de São Luís, Jamersom Lemos se integrou facilmente às letras da Cidade, fazendo parte em reuniões de um dos grupos mais atuantes lá vividos, “O Bar Atenas”.   [...] Foi no bar do Hotel Central, numa manhã ensolarada que aconteceu o fato, e que presenciei, mas que aqui o transcrevo, retirado da verve extraordinária do jornalista Sérgio Brito, contada em seu livro ‘O Brasil sem retoque e outros escritos salvos da autocensura’: “Quando de passagem por São Luís, não posso precisar

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  NOSSA COMBALIDA LITERATURA   Há alguns anos, durante aulas, palestras e conversas acadêmicas, venho chamando atenção para o fato de que nossa literatura, além de estar perdendo visibilidade, não tem conseguido formar novas gerações de leitores. E isso é preocupante! Sem pensar em procurar culpados ou mesmo em encontrar soluções mágicas que façam com que os autores nacionais voltem a ser lidos, admirados e reconhecidos em todos os rincões de nosso gigantesco Brasil, temos que primeiro refletir sobre o que vem acontecendo nas últimas décadas. Se alguém tiver a curiosidade de buscar as listas de livros mais vendidos (seria bom se além de vendidos também fossem lidos!) logo perceberá que os autores brasileiros que se dedicam à prosa ou ao verso são raridades nesses rankings. Em uma rápida conversa com estudantes dos diversos níveis de ensino, é possível perceber que, excetuando-se aqueles nomes consagrados que são ensinados e cobrados em sala de aula, os escritores brasileiros sã

Conversas vadias

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ORAÇÃO DE SAUDADE A UM POETA MAIOR*   Há dias, respondi um questionário elaborado por Natércia, neta de Nascimento Moraes Filho, como instrumental para sua tese de doutorado, quando me perguntava qual era o real sentimento pelo autor de ‘Pé de conversa’. Respondi que o meu sentimento era ao mesmo tempo filial e fraterno, porque foi ele, que numa certa tarde arrancou-me das mãos os originais de ‘Silêncio Branco’, meu primeiro livro de poemas e fê-lo editar pelo Departamento de Cultura do Estado, sob a direção, na época, do querido Dominguinhos Viera Filho, que de pronto escreveu as orelhas, e deu a apresentação para Erasmo Dias, já que eu tinha a unção de Fernando Viana, Bacelar Portela e Rubem Almeida; a capa entregaram-na para Pedro Paiva Filho... Creio que fora um excelente batismo para um jovem de 20 anos... E é justamente a ele, Zé Moraes, o meu Cireneu, a quem escrevo estes apontamentos para jornal, porque foi por suas mãos, repito, que um dia cheguei aos valores reais de minh

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  O MORRO E EMILY   O MORRO   Sexta-feira vi, pela segunda ou terceira vez, na tev ê , o filme O morro dos ventos uivantes (com Juliette Binoche no papel principal). No s á bado, com agrad á vel surpresa, constatei que o romance com esse t í tulo permanecia h á v á rias semanas na lista dos livros mais vendidos no Brasil da revista Veja.   A primeira vez que o li, na adolesc ê ncia, fiquei arrebatado de uma forma inusitada e peculiar, embora j á houvesse lido v á rios outros cl á ssicos. Certamente, havia em seu enredo, algo de m á gico, ou de aterrorizante ou de sedutor, ou as tr ê s coisas juntas. Capa do livro O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë (N ã o posso deixar, aqui, de abrir este parênteses para desconstruir a mentira freq ü ente que se pespega, de que os jovens de hoje s ã o avessos à leitura, especialmente de bons livros. A aceita çã o, nestes tempos c é leres e conturbados, deste que é um dos grandes cl á ssicos da literatura universal, desmente ess

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  QUANDO UM AMIGO PARTE (Agosto 2016)                                                           Quando um amigo parte, ficamos menores porque ele leva consigo um pedaço da nossa história. Deixa conosco as lembranças dos momentos vividos ou enfrentados juntos, as alegrias compartilhadas e a falta de sua presença física. Não apenas os amigos estão faltos da presença de Jomar Moraes; o Maranhão também perdeu um grande historiador, crítico literário, ensaísta, pesquisador, editor e bibliófilo.   Editor por excelência, Jomar tomou para si a tarefa hercúlea, e trabalhou nela mouramente, de resgatar a memória da valorosa produção literária maranhense esquecida ou abandonada na poeira do tempo, à espera de quem tivesse a coragem de espaná-la. Outro grande projeto realizado foram as reedições, enriquecidas de notas, dos poemas de Sousândade, do Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, de César Marques, das obras completas de João Lisboa e de toda uma plêiade de autores

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  O TOCA-DISCOS   Acordou com aquele gosto amargo na boca. Foi até a cozinha, nu mesmo, àquela hora a Vanda ainda não tinha dado as caras no apartamento, a condução sempre atrasava. Ao passar pela sala, viu o trambolho em cima do tapete. Parece que alguém tinha jogado aquilo lá. Mas quem? - Quem botou essa porra aí? Era um toca-discos. Daqueles antigos, cheio de botões frontais, tampa de acrílico, duas portas para pôr as fitas cassete. Exceto o acrílico, o resto era cor de chumbo. Três módulos. O de baixo devia ser onde ficava a maquinaria, pois não tinha entrada pra nada. O do meio era o porta-cassete e o de cima, o toca-discos. - Quem botou essa porra aqui? Ligou para a única pessoa que podia saber o que aquilo fazia de manhã na casa dele: - Tu não te lembra, safado? Tu comprou essa merda aí de um ambulante que tava na praça. Ele ia levar pra vender pra um colecionador e tu disse que ficava com ele. - Quanto? - Tu pagou 400 paus por ele. O cara saiu feliz da vid