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 MINHA DESPEDIDA

 


Na última quarta-feira, tive uma notícia muito triste, a perda de um grande amigo. Ele era uma das maiores inteligências que conheci, um memorialista fantástico, que descrevia, como ninguém, fatos que, para quem o escutava, sentia como se estivesse em um cinema. Ele falava do que nossa São Luís passou politicamente e do seu desenvolvimento. Descrevia o crescimento da economia do Maranhão nas épocas áureas do algodão, do babaçu, o crescimento dos grandes comércios e armazéns da Praia Grande, das fortunas de nossos conterrâneos. Sabia com detalhes da situação políticas do nosso estado.

Meu amigo descreveu com detalhes fatos políticos, como a greve de 1951, quando a população de nossa cidade se reuniu para impedir que o Governador Eugênio Barros tomasse posse. O povo em marcha se dirigiu à praça Pedro II, encontrando ali a polícia militar de prontidão. À frente da passeata, empunhando a bandeira brasileira, ia o nosso lendário “Bota pra Moer”, uma figura folclórica de São Luís, que muitos achavam que fosse louco, e que, ao chegar à Praça, ele, quando olhou a fileira de policiais todos armados, parou e falou para os que o acompanhavam: “Até aqui tudo bem, agora daqui para frente coloca um mais louco que eu”.

Era um grande prazer sentar em companhia do meu amigo, para que ele nos presenteasse com uma tão rica e pitoresca história. Era uma cabeça pensante até o fim da vida, um verdadeiro gentleman, um sorriso fácil e delicado, nunca o vi sem aquele sorriso, o qual foi representado em um porta-retratos ao lado do seu corpo inerte, no dia de suas exéquias. Era cativo aos sábados o encontrarmos com o seu panamá, reunido com amigos em uma lanchonete de quitutes árabes no Monumental Shopping, com certeza a conversar a respeito dos fatos atuais e do passado de São Luís.

Um profissional de imensa grandeza, realmente. Eu, muito reservadamente em minha família, o chamava de verdadeira faculdade, pois sabemos perfeitamente que a nossa universidade ensina e muito bem, porém o dia a dia da profissão, as nuances de uma vida profissional somente serão ensinadas pela convivência com profissionais da melhor qualidade, como era o seu caso. Meses e anos de aprendizados a serviço de profissionais que hoje despontam como os mais conceituados de nossa São Luís.

Era assim o meu querido amigo, formou e aperfeiçoou muitos que hoje estão no exercício da profissão.

Um avô, um marido, um profissional, um pai, cuja partida o Maranhão hoje chora.

Na segunda-feira, como será seu escritório, o silêncio dos que ali frequentam? Haverá com certeza a palavra de muitos, mas a sua presença fará muita falta. Seus ensinamentos, contudo, estão vivos e citados a cada processo, e assim os seus comandados não terão de sentir tanto sua ausência. Todos a quem ele com amor instruía e ensinava, como filhos e como colegas de profissão, choraram a falta do seu mestre.

Me despeço do meu grande amigo, que Deus o acolha em seu reino. Seus familiares e amigos e a cidade de São Luís sentirão a sua falta, Dr. Kleber Moreira.

 

Roberto Franklin escreve aos sábados pela Textual.

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