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MEU PRIMEIRO GOL, MINHA DOR

 


Todos nós sempre temos uma primeira vez em tudo, o primeiro beijo, o primeiro abraço, a primeira namorada. Vou deixar de lado os assuntos sentimentais, escreverei hoje de um fato acontecido na minha infância, que a princípio me vez muito feliz e que logo depois se tornou um pesadelo.

Como era de costume todos os sábados após o almoço, pegava o ônibus da viação São Luís, linha Anil e me dirigia para passar uma tarde muito agradável, na companhia de muitos amigos, uma tarde entre paqueras, futebol e outros divertimentos, no saudoso clube Jaguarema.

Ao chegarmos ao clube, éramos recebidos pelos funcionários da portaria que, logicamente, pediam a identificação de cada associado. Devo informar que embora fosse um clube social com muitos associados, o Jaguarema funcionava como uma grande família, dos diretores aos funcionários, incluído os garçons. Todos se cumprimentavam e se falavam com distinção, os garçons sempre prestativos eram uma marca do clube, acredito até que cada família teria o de sua predileção, com exceção de Menezes que sempre servia o pessoal da sinuca, ali sempre estavam presentes os fundadores do clube, assim como os mais influentes sócios. Nós gostávamos muito de Batatinha e do seu irmão, cujo nome agora me foge a memória. Éramos tão próximos que, mesmo na época de carnaval e de outras festas, nós sempre ficávamos na mesa à qual eles estivessem servindo, até porque, pelo tempo, eles já conheciam todos os nossos pedidos.

Pois bem, naquele dia ia começar o campeonato de futebol do clube, o diretor, o Sr. Raul Guterres confeccionou a tabela, organizou tudo, e os times Patriota e Nacional iam se enfrentar no campo principal, isso às 15h. Eu estava no ataque do Patriota, uma partida disputadíssima, não mencionarei os nomes dos atletas, pois poderia esquecer de alguns. Partida iniciada, diga-se de passagem, sem público, até porque o horário não permitia.

A partida transcorria normalmente, muitos gritos de "passa a bola”, eu me sentindo um craque, primeira partida oficial por um time que disputava o campeonato do clube.

Partida zero a zero, pensamentos a mil, sonho de ganhar a partida e, o melhor, de marcar um gol, era somente o que pensava. Como iniciantes entravamos em campo sem uma preparação adequada no que diz respeito a condicionamento alongamentos. A partida prosseguia de repente, surgiu uma oportunidade, um escanteio a favor do Patriota. Cobraram e, por milagre ou não, a bola encontrou a minha cabeça, prontamente eu cabeceei, minha expectativa foi grande, era agora, a bola teria que entrar; infelizmente não, a maldita cabeçada, sem pontaria, acabou por ir para o fundo do campo, não do gol.

Tiro de meta foi cobrado, a bola girava de pé em pé, o tempo passava o cansaço era gritante, a sede, o sol, eram fortes, eu teria de lutar, eu era o salvador da partida, assim pensava. Teria de ser agora, é agora, uma bola foi enfiada pela direita, estava só, sem marcação, ninguém poderia me apanhar, o suor escorria, o cansaço me perseguia, porém não podia perder aquela oportunidade de ouro. Corri, olhei a trave, ela se aproximava, eram somente eu, a bola e o goleiro, era agora ou nunca, chutei, a bola se dirigiu à meta, o goleiro caiu em busca de uma defesa, a bola entrou. Era o gol que tanto buscava, consegui, eu marquei um gol, meu primeiro gol no Jaguarema, maravilha, me sentia em pleno maracanã, corria em direção à fantasiosa torcida, imaginava todos gritando gol, meus colegas me abraçando, era o próprio Quarentinha, o maior goleador do meu Botafogo, eu era o maior. De repente, expectativa, eu caí. Imediatamente senti uma fisgada num músculo da coxa, eu não podia mais andar, estava caído, um estiramento na coxa tirara todos os meus sonhos, eu chorava dentro de mim, isso não poderia estar acontecendo, mas aconteceu. Naquele momento, meu sonho havia terminado, o sonho infantil de me tornar um grande jogador acabara, era o fim de um grande craque de futebol (risos). Saí do campo apoiado, era difícil de caminhar, fui para o banheiro tomar um banho, a dor persistia, alguém, acho que o famoso jogador e atual massagista da sauna do clube, me falou, “meu filho, coloca gelo”. Foi o que aliviou, após o banho coloquei a roupa e me dirigi com uma certa dificuldade para o local do bar do clube, que ficava ao fundo da piscina de adulto, lá eu sentei pedi para meu amigo garçom Batatinha gelo e uma toalha para segurar e amarrar junto à coxa. Passei umas 2 horas com a aplicação de gelo, a princípio doía, queimava, mas depois adormecia e aliviava a dor.

Terminadas as 2 horas, levantei ainda com um pouco de dor e me dirigi à parada de ônibus. Olha só, um craque indo embora de ônibus! Era isso mesmo, ali acabava meu sonho, ali findava a carreira de um pequeno jogador dolorido, mais feliz pelo gol, feliz pelo atendimento, pois todos queriam saber como foi, eu me sentia lá no clube o maior. No ônibus, após sentar, o sonho acabou, e mais um menino voltava para casa deixando longe um sonho.

Assim acabou a história de um craque de bola (muitos risos)!

 

Roberto Franklin escreve aos sábados para o Textual.


Comentários

  1. Excelente crônica, Roberto. Estou a prenunciar que o Jaguarema perdeu um bom jogador de futebol, mas o Maranhão ganhou um brilhante memorialista!

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