Textual
O BONDE: UMA SAUDADE
ENQUANTO AGUARDAVA A HORA da minha esposa ser atendida, na emergência do
Hospital UDI, comecei assim como tantos que estavam à espera do atendimento a
verificar as postagens no Face e do WhatsApp, quando me deparei com algumas fotografias
da década de sessenta da nossa amada São Luís, dentre outras a que
me chamou mais a tenção e levou-me a recordações de uma época da minha
adolescência mostrava na praça Deodoro a imagem do nosso saudoso bonde, que em
nome de uma falsa evolução dos tempos foi retirado de nossas rua pelo então
prefeito Epitácio Cafeteira em 1966.
Antes
de descrever as emoções e lembranças de uma época para mim maravilhosa
descreverei um pouco da história do bonde em São Luís. Fazendo uma pesquisa a
respeito do assunto encontrei uma matéria no Jornal O Imparcial intitulada “ A
história dos saudosos bondes de São Luís” escrita por Samartony Martins, nela o repórter afirma que por volta de
1872 São Luís assim como as grandes cidades históricas do mundo inaugurava seu
sistema de transportes por meio de bondes movida à tração animal, sendo a
primeira rota seria da praça Pedro II, com isso nossa cidade teria sua primeira
ferrovia inaugurada e uma das primeiras do Brasil. Depois foram criadas as
linhas do Largo dos Remédios, Rua Grande e a terceira ia do Largo do Palácio ao
Cemitério do Gavião, a última linha seria uma de 11 quilômetros que ia da Rua
Grande até o final do Cutim no Anil , esta inaugurada por volta de 1873.
Pois bem após breve história a respeito do nosso
saudoso bonde, afirmamos que muitos Ludovicense até hoje sentem saudades desse
meio de transporte, sua retirada foi uma dura atitude da prefeitura que a
pretexto da evolução dos transportes acabou do o serviço como já afirmamos em
1966.
As lembranças são muitas, pensar que poderíamos
pegar o bonde no centro de São Luís e percorrer vários bairros centrais seria
uma verdadeira viagem ao passado, passar pela Rua de São João próximo a igreja
do mesmos nome passando pela igreja de Santo Antonio até a estação ferroviária
percorrer toda a Beira-Mar vendo e sentindo a brisa que nos agraciava a baia de
São Marcos era apreciável, poderíamos também pegar o bonde que ia para a praça
Gonçalves Dias parando em frente a Igreja dos Remédios, esta linha tinha uma
característica que ao pararmos o motorneiro
mudava a direção da lança então o que era a frente se tornava a traseira
do bonde e assim como a traseira de tornava a frente, pois não havia trilho
para contornar e voltar.
Sonho meu e de muitos da época era andar de bonde
no estribo que nada mais era que uma espécie de degrau que ajudava as pessoas a
subir, assim como em caso do bonde estar cheio de ir em pé, isso dava uma ar de
ser adulto, lembro-me também de outra característica que jamais poderia ser
encontrada nos dias violentos de hoje o sistema de cobrança da passagem era
realizada pelo cobrador devidamente fardado com sua roupa caqui e um quepe, portava uma bolsa de couro transpassada no peito e na mão
um punhado de dinheiro devidamente arrumado entre os dedos e na outra mão as
moedas que eram balançadas avisando a hora de pagar a passagem. Alguns jovens
desprovidos do dinheiro da passagem eram obrigados a driblar o cobrador, ou
seja, se ele vinha pela a esquerda então eles atravessavam e se pendurava no
estribo da direita se ele vinha pela frente eles saltavam do bonde e o pegavam
atrás.
Uma outra lembrança que ainda guardo era na época
de Julho quando das nossas férias além de muitas atividades de lazer
empinávamos papagaios e para lancear, que seria uma espécie de luta em pleno ar
nós teríamos de moer vidros até virar pó e misturar com uma goma caseira a essa
mistura chamava-se de cerol e afirmavam os mais adeptos que o melhor cerol era
feito com o vidro azul do Leite de Magnésio Phillips, assim para não ficarmos
socando o vidro que era muito duro e grosso por horas colocávamos pedaços de vidro sobre o trilho
do bonde, que quando não era visto pelos motorneiros passavam por cima
transformando-os em pó, e assim ficava mais rápido a mistura. Tenho ainda
muitas lembranças de uma época que vivi e que tenho saudades.
O inconformismo da retira dos bondes pela
alegação de um suposto desenvolvimento da nossa cidade, faz-me lembrar que
outras cidades da Europa e dos Estados Unidos ainda hoje dispõe deste sistema
de transporte, então não justifica o que em 1966 argumentara a Prefeitura de
São Luís.
Assim segue a saudade de uma época que encontro
em minhas lembranças e nas fotografias.
Roberto Franklin escreve aos sábados
para o Textual.
Excelente resgate, caro poeta Roberto Franklin. Um passeio pela história. Ah, gostei na ideia do cerol moído nos trilhos do bonde. É vivendo e aprendendo.
ResponderExcluirParabéns.
Forte abraço