Textual
2020: O ANO QUE NÃO VIVEMOS JUNHO
“Maranhão,
meu tesouro, meu torrão
Fiz esta toada pra ti, Maranhão”
Humberto de Maracanã
CHEGAMOS AO MÊS DE JUNHO ANO DE 2020, o ano que não vivemos.
Passamos por momentos terríveis, período de incertezas e de muito medo, economia
em declínio, amigos partiram. Todos reclusos (todos, nem tanto), com muito
medo. Discussão em torno de tratamento e de medicação, usa-se a CLOROQUINA ou
não; logicamente sempre entrando no meio da discussão política, governadores e
prefeitos recebendo dinheiro do governo federal e ainda falando mal,
prefeituras faturando em cima de mortes pelo coronavírus, dizem que no Brasil
todos que faleceram o médico era instruído para colocar no atestado de óbito:
COVID 19.
Deixando de mão assuntos terríveis, entramos no mês da paixão
dos maranhenses, o tão esperado junho, mês de festa, de danças, fogueiras,
matracas, caboclo de pena, culinária rica e apreciada, um mês de encontros e
fortes lembranças. Quem um dia não esperou ansiosamente pelos ensaios das
quadrilhas juninas, realizadas em colégios ou até mesmo em casa de amigos; quem
não esperou para poder encontrar aquela por quem o coração batia forte, para
segurar sua mão, mesmo que por segundos nas danças de quadrilha? E na hora do
“troca de par”, “que maravilha te encontrar”, as palavras eram silenciosas, bastava
o olhar, a respiração e as mãos geladas, tudo isso valia mais que palavras.
Lembrar do mês de junho é lembrar das danças, quadrilhas, e
do tão famoso e conhecido bumba-meu-boi, de diversos sotaques. O Bumba-meu-boi sempre foi a principal atração. Os grupos de bumba-meu-boi
do Maranhão são divididos em sotaques (estilos, formas e
expressões).
Entre os sotaques estão:
sotaque de matraca, sotaque de zabumba, sotaque de
orquestra, sotaque da baixada, sotaque de costa-de-mão.
Particularmente, eu gosto mais do sotaque de orquestra. Lógico que, tendo um
folclore tão rico, não podemos nos prender somente ao bumba meu boi, temos
outras manifestações populares.
Escrevendo a respeito do mês de junho, não
poderia deixar de lembrar do patrono da cadeira de número 40 da Academia
Ludovicense de Letras, a minha cadeira o meu patrono, um escritor que dedicou
sua vida a pesquisar e a escrever a respeito do nosso folclore, de nossa cidade.
José de Ribamar Reis deixou uma vasta bibliografia, em que falava de todos os
assuntos de nossa cidade, com ênfase no nosso folclore.
Também não poderíamos deixar de citar os cantadores
atuais, discípulos de muitos que não estão mais aqui, podemos citar Zé Alberto, Chagas, Ribinha, Jhone,
Marquinho, Neto, Berg, e Zequinha de Coxinho, que, como o nome diz, é filho e
também discípulo de um dos maiores cantadores de boi , o famoso Coxinho,
cantador do Bumba do Boi de Pindaré sotaque da baixada maranhense. Quem não se
lembra de sua toada
“Urrou do Boi”, criada em 1972, e que hoje está reconhecida como o Hino
Cultural e Folclórico do Maranhão. Outros cantadores infelizmente não
estão mais entre nós, como os famosos Donato, João Chiador, Humberto de
Maracanã, dentre outros.
Assim como é importante o bumba-meu-boi,
podemos citar os comunicadores de nossa ilha, com seus programas destinados ao
folclore. Dentre outros, destacamos o radialista e jornalista José Raimundo, um
dos pioneiros e mais importante incentivador do nosso folclore, tanto na rádio quanto na televisão.
Também não poderia esquecer os que cantaram ou
cantam músicas referente ao São João, dentre outros poderíamos citar, César
Nascimento, Roberto Ricci, Josias Sobrinho, Zeca Baleiro, e o saudoso Papete.
José de Ribamar Viana era maranhense, um dos
maiores percussionistas do Brasil, segundo a revista “Dow BEAT”, era conhecido
por todos como PAPETE, apelido dado em São Paulo por Ademir Martins em um
almoço juntamente com outros artistas. Ademir olhou para Papete e falou, que
ele não tinha a cara de maranhense e sim taitiano, por isso o apelidou de
Papete, referência à capital do Taiti, Papete.
Papete foi para São Paulo em 1970 e logo se
engajou no mundo da música, trabalhou por sete anos na casa JOGRAL, considerada
morada de grandes artistas como Edu Lobo, Geraldo Vandré, Paulinho da Viola,
Jorge Benjor, Luís Carlos Paraná, Chico Buarque e outros. Foi exatamente na
Jogral que nosso músico aprendeu a tocar a maioria dos instrumentos de
percussão. Nosso Papete foi, inclusive, o primeiro brasileiro a fazer um show
voltado para percussão brasileira, onde incluía o Berimbau como instrumento
principal. Logo em seguida se especializou nesse tipo de instrumento, o que lhe
valeu no Brasil e no exterior prêmios da critica musical, com isso foi
considerado pela já citada revista especializada DOW BEAT um dos três melhores
do mundo.
O mês de Junho é, portanto, esse mês dedicado às
festas junina em que o bumba meu boi, as quadrilhas, os arraiais, nosso
cantores, fazem dele o mês mais festejado do calendário de São Luis por tantos
famosos, dentre os quais o maior para mim, o grande percussionista PAPETE, com
quem tive a honra e o prazer de conviver poucas vezes, mais intensamente.
Quando fiquei sabendo da morte do nosso Papete
fiz uma homenagem, escrevendo o poema a seguir:
PAPETE
Abrem-se as
cortinas.
Em cena o vazio.
Choram as matracas, os pandeirões.
Choram as zabumbas.
O silêncio no palco.
As lágrimas da plateia.
São João está mais triste.
Tua voz... tua matraca
pararam.
Hoje no coração dos
maranhenses
Soa somente a lembrança de um
gênio.
De um homem, de um marido, de
um pai.
Amigo que conquistou o Brasil
E o mundo com suas músicas,
arranjos e toadas.
PAPETE, a festa
por aqui acabou.
Hoje o céu estará em festa com
tua presença.
Que Deus te receba.
Aqui só nos resta a saudade...
Roberto Franklin escreve aos sábados para o Textual.


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