Textual
A PROSA DE GERALDO IENSEN
PARANAENSE QUE DESDE A JUVENTUDE adotou o Maranhão como segundo lar, o escritor, ator e
jornalista Geraldo Iensen é o tipo de intelectual que parece preocupar-se mais
com o prazer de burilar os textos do que com a pressa de trazê-los a público.
Isso possivelmente se reflete na exígua quantidade de livros lançados em
contraponto à qualidade estética de sua produção literária.
Seja
nos contos, seja nas narrativas mais longas, o jovem escritor parece demonstrar
consciência do seu fazer literário, construindo personagens e cenários que
estão de acordo com o ambiente retratado e com o interesse temático que se
descortina ao longo das narrativas. É possível notar, desde as primeiras
páginas de seus trabalhos uma preocupação com os aspectos psicológicos
entremeados de abordagens sociais e de intrínsecas relações entre o meio em que
estão inseridos os atores envolvidos com o processo narrativo.
Algumas
pessoas provavelmente ficam incomodadas com a crueza da linguagem usada por
Geraldo Iensen em seus livros, no entanto o uso de um nível menos formal e que
utiliza palavras ditas como chulas ou vulgares é de essencial importância para
o desenvolvimento do enredo e para a adequação das personagens e dos narradores
ao contexto social em que estão inseridos. Mais que obras repletas de
palavrões, como alguém poderia pensar à primeira vista, temos tentativas de ser
fiel a uma realidade dura e crua, que encontra na escolha lexical um reflexo
das mazelas sociais e das contradições de um mundo conturbado.
Em
“O Legado de Torres”, o autor trabalha, a partir da construção dos contos que
constituem o livro, personagens e personalidades que podem cruzar com o nosso
caminho a qualquer momento. São pessoas de papel, mas que poderiam ser de carne
e osso, repletas de conflitos internos, mas que, à primeira vista, caso vistas
apenas pelos aspectos externos, poderiam passar despercebidas. Porém, levando a
sério a ideia rodrigueana de que quando visto de perto, ninguém é normal,
Iensen, joga luzes sobre seres comuns e, ao focar e amplificar seus pensamentos
e comportamentos demonstra que mesmo as pessoas aparentemente mais insossas
escondem dentro de si inúmeras características que mereceriam um aprofundado
estudo individual.
Em
sua premiada novela “Sêpsis”, Geraldo
Iensen conduz o leitor por um intricado labirinto de ideias, comportamentos,
obsessões e busca de verdades que nem sempre podem (ou devem) ser encontradas.
Nesse livro, as personagens parecem mergulhar em um vórtice de acontecimentos
que tem seus eixos deslocados frequentemente, possibilitando que o leitor
mergulhe no fluxo dos acontecimentos e compartilhe da sensação de vazio e de
vertigem na qual estão inseridos os personagens.
Seu
livro de “Um cachorro, um vinho, uma herança e um sonho”, o leitor, além de ter
de envolver-se com as personagens de cada um dos contos, tanto em seus aspectos
físicos quanto no psicológicos, ainda tem que ter sensibilidade para sentir uma
musicalidade que entrelaça os contos e faz com que cada trecho do trabalho faça
sentido quando se chega ao final do livro.
Geraldo
Iensen é um escritor bastante criativo e que burila seus textos de modo a não
tornar suas narrativas apenas repositório de uma história, mas sim um modo de
transmitir mensagens que têm a vida humana como centro de interesse.
José Neres escreve às segundas-feiras para o Textual.
Muito bem apreciado. Captou a essência do escritor Geraldo Jensen.
ResponderExcluirEu conheço a obra de G. Iensen. Um grande prosador (ficcionista). O legado de Torres é uma obra para ser lida por quem admira a literatura.
ResponderExcluirOs contos de O Legado de Torres são pequenas peças de ourivesaria literária.
ResponderExcluirCom certeza, meu amigo Neres.
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