Textual


Tomado de lembranças boas, no dia de hoje, partilho com os(as) amigos(as)  três poemas, de minha autoria, premiados em concursos em âmbito municipal, estadual e paraestadual. O primeiro foi importante por me abrir as portas, em Caxias, no I Festival Caxiense de Poesia (Academia Caxiense de Letras, 2008). O segundo trouxe para a “terra morena de Gonçalves Dias” o prêmio Nauro Machado, no I Festival Maranhense de Conto e Poesia (FESTMACPO, categoria poema, UEMA, 2015). E o terceiro foi um dos dez melhores textos do Concurso VIP de Literatura/AR Publisher Editora, 2019. Levando em conta que o prêmio que mais fazer nascer estrelas no coração de um poeta é a leitura de sua palavra & o eco dela por muitas vidas, convido todos(as) à leitura do versejamento a seguir:

 

DANDO CABO ÀS MINHAS TORMENTAS

 

hoje, vou navegar sem destino,

apanhar as rosas dos ventos,

como um marinheiro menino,

colher flores, fabricar cataventos.

 

vou me entregar, ficar ao sol dado.

desnorteado, para qualquer rumo vou.

seguir luas, voos de sonho acordado,

naufragar numa ilha de profundo amor.

 

hoje, às minhas agitações, darei cabo.

meu coração, desancorado, afundou.

sol contigo, minhas tormentas acabo.

por teus estreitos, meu coração escorregou.

 

tu, em meu barco, não morro, eu riacho.

não me deixa ser um cara velado!

nau consigo velejar nesse amor afogado,

se eu morrer, amanhã, em teu braço,

hoje mesmo, o canal do céu, ultrapasso.

 

CLARÃO

a fome – ave de rapina –
fita o que nos desalimenta,
cada farelo que nos consome:

 

os ásperos grãos

 

de pão,
de guerras,
de prêmios,
de dinheiro,
de poder...

 

caberia tudo
num só clarão de espanto ou
num bater de asas sovinas?

a fome, de modo inclemente,
mata com pílulas de culpa,
de exílios e silêncios cortantes!

 

um sonho de capa de jornal:
em fase de inapetência e autoflagelo,

 

a fome suicida-se,
com uma garfada,
no fundo da vasilha
em que jantava vazios.

 

O POETA LOCAL

 

sempre desconfiei sobre a existência

do dito, contradito poeta local.

 

ele é um fantasma

das tardes de sexta-feira,

que surge como um risco de arco-íris

na rua dos chapéus abandonados?

 

não sei descrever bem a sua face.

um retrato policial falado-declamado que seja.  

 

o poeta local toma café importado?

o poeta local sabe seu lugar no mundo?

 

feito peixe-sabão,

mora numa loca o poeta local?

 

são tantos os fuxicos do vento

sobre o poeta local:

 

diz-se que ele lê Drummond

e tira barro-louça do nariz.

 

diz-se  que ele não se demora

nas grandes capitais,

 

há o grave perigo de se

deslocalizar de sua raiz.

 

ah, o poeta local

somos tu e eus...

estes que tomam bênção

aos pés dos rios invisíveis.

 

o poeta local

é um trombudo de Vênus,

um velho índio pescador de signos

à sombra das quatetês da aldeia mãe.

 

Carvalho Junior escreve às sextas-feiras para o Textual.

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