10 poemas de Hagamenon de Jesus

  POEMAS

 (1995-2020)


 AGORA, ENQUANTO AINDA DÓI

 

Deus não está sorrindo agora. E já não ria muito, um pouco antes. A natureza muitas vezes pode ser caótica e feroz. Mas no próprio caos natural da vida há muita beleza. Porém, pode haver beleza num caos criado com nossas próprias mãos? Não sei. Só sei que não se faz o que se está fazendo com os animais, em tantas florestas e mercados do mundo, só sei que o caos que vivemos hoje não vem de agora. Ele começou há muito tempo.

Começou quando deixamos de ser “nós” e passamos a ser só “eu”. Começou quando, deixando de ser um irmão da natureza, acreditamos ser seu senhor, porque compreendemos errado a mensagem dos livros sagrados, acerca de reinarmos sobre todos os animais. Começou quando o tempo se acelerou tanto que, ao contrário de termos mais tempo para aquilo que amamos, passamos a não ter. Começou quando deixamos de ter tempo para o amor, qualquer tipo de amor. 

Agora, queremos abraçar e ser abraçados, e não podemos, não devemos. Agora, enfim, pensamos naqueles que deviam ser lembrados, mas que, para falar a verdade, há muito que já os tínhamos esquecido. O mal, é que a gente esquece sempre. Agora descobrimos que, por incrível que pareça, se não pudermos ir ao shopping por alguns dias, não morremos. Agora realmente sabemos o valor de cada dia, porque voltamos a viver dia a dia, já que simplesmente ninguém sabe se verá o futuro, se terá um amanhã. Agora finalmente sabemos, em profundidade, que cada dia que acordamos com vida realmente é uma vitória. E uma bênção.

Agora, quando Deus está pensativo e, só por um instante, fechou os seus olhos, é possível imaginar o que vai acontecer se ele realmente para nós fechar seus olhos.

Não tem sido fácil para Deus deixar seus olhos abertos e contemplar nosso arraigado egoísmo. Não tem sido fácil para Deus contemplar nossa insensibilidade para com o outro. Não tem sido fácil para Deus contemplar toda esta destruição em nossas mãos, nosso homicídio diário da natureza, que ele maravilhosamente criou. Não tem sido fácil para Deus olhar nossa brutal e arrogante ignorância. É mais fácil para Deus olhar para os que nele nem acreditam, porque é muito fácil perceber que Deus pouco se importa com o que pensamos dele, e sim com o que fazemos para quem está ao nosso lado, porque o que fazemos para o próximo, afinal, o fazemos para Deus.

Será que hoje, limitados que estamos pela ação de um ser minúsculo, um animal insignificante, conseguiremos compreender o quão insignificantes também somos nós? O que seria de nós, de nossas mansões, das nossas arrogantes cidades que não podem parar, de nossas roupas e acessórios de grife, enfim, de nossas tolas e vazias presunções, se este vírus fosse mais letal, e Deus eternamente para nós fechasse os seus olhos?

Uma, várias, quantas pragas sem remédio serão necessárias para entendermos que nesta impressionante teia da vida tudo está ligado e que somos um só? Pois descobrirmos que a dinâmica de nosso metabolismo se assemelha à dos ratos, e que é também por isso que testamos neles nossos remédios, parece que não foi suficiente. E todos já sabermos que nosso cérebro é mais de 90% semelhante ao de um chipanzé também não foi suficiente.  Algum dia algo será suficiente? Porque é extremamente simples, fácil, saber que em essência somos iguais. Basta cortar um dedo, não sairá sangue azul. Todos o temos da mesma cor. Esta é a verdade, e só esta: não existe sangue azul. E, contudo, os sentimentos poderiam ser sempre luminosos.

Você já nem vê, mas debaixo do sol, todos os dias, a natureza ainda se ilumina, e nos ensina que, para a vida, o que é necessário, o que existe, é a diversidade, não a diferença. Que todas as classificações são falsas, ou seja, que na realidade concreta e natural da vida, elas não existem, são só um artefato artificial, obscuro, nascido de um ser imperfeito, ainda mais as que tentam classificar pessoas, gente? Por que devo classificar pessoas se o homem, qualquer homem, é mesmo só um caniço pensante, um tubo que infalivelmente tem que respirar, processar alimentos e defecar todos os dias? E que, se por algum motivo não o faça, morre: eu, você, os reis e rainhas, os eruditos e os sem estudo, as celebridades e os anônimos? Qual o sentido das classificações? Em que embelezamos o mundo ou o tornamos melhor classificando homens?

Eu, você, todos sabemos, muitos homens de boa fé tentaram mudar o mundo. Não se muda o mundo. Todos eles foram homens grandiosos, e contribuíram muito. Mas ninguém muda o mundo. Contudo, a gente pode mudar e muda, incessantemente. Esta, uma das mais profundas e ricas fatalidades da existência, sem a qual a vida não pode seguir seu curso.

Mas não consigo acreditar que se muda alguém. Sou pessimista, ninguém muda ninguém. E é por isso então que eu talvez me perca, e no meio desta angústia já não sei o que fazer destas palavras, indefesas. E eu, o que faço é escrever, é o que posso fazer. Gostaria que, com elas, entendêssemos que nós podemos ser a pena ou o peso na balança, que somos nós o bem e o mal do mundo. Gostaria de, com elas, conseguir fazer com que nos lembrássemos dos que têm sido esquecidos. Eles são muitos, e estão por toda parte, alguns muito perto de nós. Mas são só palavras. E também as palavras não mudam o mundo. A mudança, enfim, cabe a cada um. No entanto, se um pouco desta dor que reside agora dentro de cada uma destas palavras puder fazer com que você, por um breve momento, venha a refletir e repensar algumas de suas posturas, de suas ações, eu, por hoje, terei feito o meu trabalho, terei dado a minha contribuição.

 

Hagamenon

Primata da espécie homo sapiens

São Luís, 18 de junho de 2020.

 

 

PALESTRA

 

 

De acúmulo e orgias

o nada a ser dito:

 

que a poesia

não cabe em palavras.

 

 

 

 

 

  21

 

 

 e

seremos

como nossos sabonetinhos de uma noite só

 pequenos

e sem significado

 deixados ao sereno...

como as nossas

camisas de vênus

 

 

AS DEPENDÊNCIAS INTERNAS

 

Aos filhos, todos, os de vivência e os de sangue.

 

 

 

Tenho fome. – E não me resolve

Sonhar satélites e comer televisões

Todos os dias. Plantar chips

É pão, é trigo

Que ainda não me alimenta.

E o que faço eu dos ritos do trigo

Que ainda fermentam

– Na cozinha, na sala

Do vídeo,

No coração, no quarto

Dos meninos?

Tenho fome

 

Tenho fome.

Porque estou vivo. – Sinto fome.

Sinto fome de homens

De carne e osso

Do fogo

Dividido na floresta.

 

 

  ON THE ROADS

  

Para a minha amiga, Rosemary Rêgo.

 

 

 no as

falto

  para mim próprio

  e sigo, pneu pensando

                       o negro e veloz confuso

                         em que rodeio, odeio.

 

Carregando o peso de engrenagens que incompreendo

toda difícil

carga de aço e superficialidade

que sorri por mim

                     o voo

 sem aves e sem brilho ou céus

ao cair da tarde

de meus próprios sorrisos

    ANÚNCIOS DE DENTIFRÍCIO

                       e me anuncia

     ó mega portais fax e telemarketing

                             nos sites

       amor fotos amigos laser para cálculo renal

minhas mães corporações e temos happy hours

                          tênis air max nike

                                           lojas

   esta maravilha de compramos vídeos de meditação

                      e maçãs verdes da internet

        tudo tão perto está tão longe olha somos

inalcançáveis, on line vibradores e preservativos

                           intocáveis, é o

                                     que somos

                                           ergo os vidros do carro

 

              dou um retoque na maquiagem

                         o menino que vigia carros sorri

ó pai obrigado pelas vitrines onde tudo é resolvido

                       o cotidiano sistema do vazio

    no vidro dos carros está escrito: dignidade

                                                              são adesivos

                                                  estamos tão tarde

                                             a esta hora

                                                    sou

                 apenas nós, como circuitos fechados

                         eu em meu condomínio

               Talvez haja esperança, tudo avança.

               Ouço new age o mar

                                 deixo meu celular

                      desligado

                                       ligo

                               o ar-condicionado

                                               rodo:

                                          Ênia – Kitaro

                                certamente virá a Nova Idade.

 

    Mas, de entre as engrenagens,

    sangra, como que um óleo,

    viscoso,

      o que descon

    fio

     ser

                   o antigo sangue da desigualdade.

 

 

A INOCÊNCIA

 

 

Quantas vezes a vida, o mar

te permitirá

o socorro dos naufrágios?

 

Quantas vezes a vida, o mar

te devolverá

às margens de tudo que é teu?

 

Quantas vezes a vida,

lar

que não te contenta,

tenta

te trazer de volta ao porto,

e te reinventa?

 

Moço, entende,

não há jogo

a vida é inocente.

 

E, sem inocência,

a realidade é imensa.

 


O MAPA

 

Para Carvalho Júnior e Antonio Ailton.

 

 

Desassombrado, tosco, tonto! Desatino, esse, moço, o nome que me deram desde eu menino. Todo tropeço, causa de escombros. O meu corpo era fome, e foi assim que o meu nome ficou tido e vertido em seu só veneno, escória das cercanias, touro-troço-retinto, touro-traiçoeiro, malsinado e malquisto. E assim, num extravio de embrulho, talvez no embuste de Deus, do destino, nunca me compreendia, e só seguia, tentando me manter tranquilo. Mas algo me dizia: “também num labirinto pode-se achar um brilho, o tino...”. Então, eu apenas desfiei meu fio. E queda no toco, engodo e encruzilhada, a noite fechada. Descaminhos. Eu apenas desfiei meu fio.

 

Agora, moço, vencido o tempo, o chão rachado do rosto, o sulco das rugas, minha colheita, o doce e feminino do milho. No rompante das capoeiras, das veredas, vencido o longe das léguas e curta as vistas para réguas e livros − mas longa para o que eu descortino − hoje me sei exímio, e posso te dizer, meu filho: “só herdei o mapa quando me encontrei; foi quando admirei o sem sentido...” 


 

THE PROBLEM

“O mundo se encontra suspenso, o mundo

de hoje ainda é um grande talvez”

Eric Hobsbawn

 

O problema

 

não é o meu corpo suspenso no meu passo

sustando o corpo do mundo.

 

O Problema

 

é o passo do mundo suspenso no meu corpo,

que ignora

o que de meu próprio passo

se elabore mundo.

 

O Problema

 

não é que não haja reais sorrisos

transmitidos via satélite

para os meus olhos, destituídos: brutos

olhos mecanismo mudos

de tanta precisão.

 

O Problema

 

é que a magia de nossas mãos

que tudo podem

não possam, mesmo de um modo (o mais remoto)

construí-los

para os meus olhos de tanta precisão.

 

O Problema

 

é que o controle é muito remoto.

 

O Problema

 

não é o estilo, a língua

que se fala não fala,

e se não fala não fala

e que é, laconicamente,

a prolixa, pródiga surda-muda.

 

O Problema

 

é mais que a forma, a divisão

entre expressão e comunicação,

entre o falar sim e o falar não.

 

O Problema

 

não é o ouvido roto, esse falar rouco,

sem expressão, não são

nem estes olhos, ah! estes frios olhos, de ar

condicionado, que

da imagem da imagem da imagem

nem imaginam...

 

O Problema

 

é a multidão, a multiplicação sem os pães

é o bastar-se, insólito, ao sol

mudo muro: sem expressão.

 

 

O Problema

 

não é a alma e o espírito,

nem o espírito e a alma,

não são os caminhos...

 

O Problema

 

é o seu ausente, impessoal, vazio,

são as perguntas, presentes,

mas irrespondidas.

 

O Problema

 

é entreaberto, um talvez

(o de todos), de portas, de porto.

 

O Problema

 

é, de novo,

o homem no ovo, este homem novo,

o problema é

o eterno drama de parto ou aborto.

 

E, sublime,

Sol(o) fundo

  a mais

 que as asas de ouro dos sonetos

e pelo escárnio, inoxidável, dos metais ferido...

 

 O Problema

 

não é nem mesmo o amor, ser amorfo, esquecido,

absurdo ser-sem-ter-sido, amor, que é a minha ave meu vidro,

ah meu amor meu lindo! que move o sol como as estrelas,

 manhã que tem sentido, e indefeso,

  objetivo objeto: amor, o cisne

 nas vitrines, acrílico.

 

O Problema

 

indimensionável e infinito

por que passo

é mais que o meu passo

sustado no espaço

para o nosso aportar.

 

O Problema

 

é o espaço do passo

é a distância do enquanto passo

que, enquanto não passe,

nos desencontrará.



A FLOR DO DESIGN

 

 

 a flor do design é a

 mesma,

 a flor do design

é terno furor

      é terna   forma   e

                          cor  (que jamais esperas

                   do desespero

        a flor do design é sempre a mesma

 

                     flor

 

 

 

 

A CIDADE ENQUANTO AZULA O TEMPO *         [Fragmento]

 À minha cidade, aos meus amigos

 e muito especialmente para Sotero Vital,

 que inspirou este poema.

 

 

 

Eram dez naus

e eram

cem cavalos

 e novecentos homens, para logo

                                                   de berço ou a bordo aprendermos

                        a dor de um naufrágio!

               pois

também aqui veloz vida e um estrangeiro destino iriam se criar

entre as fissuras do trágico

 pois

como a boca de um cação                                                                         

(ó boqueirão do mundo!)

uma cidade

esta cidade outra cidade toda cidade

tem a ânsia de devorar: eis sua flora

     como o tempo sempre a devorar os tempos

assim ela se faz senhora.

 

Azul?

Não, ainda não era o azul.

Azul?

Não, ainda não era o azul sob a ponte de tribuzi abrindo seus dois braços

                                                Ainda não era

sequer o turvo, o escuro mais que escuro

o cru e o sujo

no oco do mundo.

Ainda não era este azul

                                        e/ou

                                   o anil na fábrica do futuro,

            fábrica

de poetas. Ou

nenhuma carranca

chorando à espera

  do tempo que erra

e nenhum ribamar

sua fome, sua fera

suas garras, sua guerra

(que a vida é sempre combate),

e por isso ainda não era

a louça deste tempo

 partido em chagas,

nos confundindo como um espelho,

tempo sem recheio

tempo só espelho.

 

Não,

  este azul

               ainda não era.

   

Ainda era

             só a boca

aberta do boqueirão   

sem timbiras nem tupinambás

                ainda era só o cofo de palha e ouro de nossa bela escuridão

                                         de inocência e de mar,                 

sem máquinas de existir.

 

Era só o azul.

             Meninos, eu também vi.

 

 

 

                                                                     *

                                                                *          *

Por isso

pode parecer estranho

que eu desça

                                                            oco

dentro deste tempo

        como o sino

vazio e insaciado

da Igreja do Carmo

antes de tocar.

 

E direto me toque

  agora puro (ou de inox)

para as encarnadas substâncias do Roxy.

 

Pode então

parecer esdrúxulo                                                                             

que eu me torne o bruxo

de minhas próprias assombrações

maiores que as da cidade

   mais pálido que a manguda, mais susto que cazumbá

mais negro que os negros mortos

nos fundos poços

              da consciência

desta cidade de frente pro mar.

 

E de mim retirar

 este vazio

cheio de objetos

   vazios

que se oferecem

em todos os shoppings

nos points mais chiques

mas que me parecem

apenas mais dejetos

que aqui se empilha

sobre a minha ilha.

E nem o altar da Sé pode me salvar.

 

 *

*          *

 

E é por estes e por tantos pirados motivos

que em transe transito

no cair deste azul

que desde menino carrego comigo 

agora que o taxi me traz

de suas praias ao motel e dele ao Tropical

enquanto aguardo que tu desças

 meio tensa

     meio sensual

pra sufocarmos esta nossa carência

em exorcismos de consumo

e entre loja e logro e entre olho e rumo

eis a nossa grande orgia!

que nos sabemos desrumos,

e entre anúncios lojas sonhos sapatos

joias brincos beijos e tênis de marca

e na loja de acessórios anti-vazio

também celulares modens links e fones

pra falar de longe

agora que tudo está tão perto e pode estar tão longe

e no lugar do amor vibradores sutiãs sedosos preservativos

 

e um cisne de acrílico

                     com assinatura de arte

e também bijus maçãs chocolates

e camisinhas

já que, no fundo, somos intocáveis.

 

Eis porque não me acho

e é azia este azul

                (depois de tantos hambúrgueres).

É azia este azul mais do que foi a transa

ou do que são os cardápios: que nenhum deles logra

                 adoçar em mim

         o que em mim é ácido.

         É azia este azul

         feito das migalhas

         de horizontes restritos

               e fragmentários,

     mas sob medida

     para nós, os peixes no aquário.

       

     Eis porque não me acho

     no escurecer deste azul

                                     que se despedaça

 enquanto cai a tarde

 e que corta como navalha

   no transe do trânsito

 rente às tuas pernas, junto ao táxi.

      E repercute em todos os sinos e nos ouvidos dos bem-te-vis dos canários

      e grita aos meus ouvidos, por sobre o silêncio de todos os pássaros:

   “A ilha já não é mais ilha!”,

   enquanto eu sigo, tonto

   triste,

         turvo

   disperso e vago.

 

E então já me vejo

meio santo, meio percevejo

meio sangue, meio morcego

em mim, o anjo bêbado,

   os pés na Faustina,

já que a vida

não é uma festa

(exceto na quinta),

 em transe no couro

 sonhando crioulas

 que as noites trarão.

 

Ê, coureira,

que hoje eu não me salvo!

porque sou deste povo

que também o meu couro

é afinado a fogo, tocado a murro

tratado a coice e chão.

 

Ê, coureira,

que hoje não me salva

nem Dom Cosme Bento das Chagas,

nem o negro Damião!

 

Ê, coureira,

que talvez nada nos salve, a mim e a minha cidade,

desta dispersão!

 

   *

                                                                 *           *

 

 

 

 

Então o que faço

desta cidade

em que já não me acho

e que, contudo,

me atravessa com seu facho?

 

Em mim reflete o seu passado?

 

Então constato,

que minha cidade se fez mais de versos

que de suas de várias versões,

se fez mais de cantos

que de suas pedras de cantaria.

 

E é neles então que me acho,

nas suas pedras, nos seus cantos, nos seus versos.

 

É neles então que me acho,

nesta cidade

  de becos

que podem ser abraços

de ruas que podem ser sorrisos.

 Ó minha cidade, de sonho e de encontros

                                              e agora tudo faz sentido!

                                    Agora

                                                                        que os vejo, meus amigos...

 

 

 

 

 

 

 

*

 *           *

 

 

Eis a minha cidade,

nela já me acho.

que a carrego comigo,

eu a digiro, meu alimento,

 

mesmo que dela agora só me sirvam

este azul despedaçado

e, deste azulejo, um fragmento

 

eu a carrego comigo

porque aprendi

(com seus versos e os seus poetas):

 

   a cidade é dentro

 

 

São Luís, MA, 4 de setembro de 2012.

 

 

 ___________

 

(*)  O verbo azular, além de se referir à cor azul, pode também ter o significado de fugir, conforme as crianças de São Luís da minha época o utilizavam, forma e uso estes, inclusive, registrados nos dicionários Aurélio e Caldas Aulete.

 

Este poema, feito em homenagem a São Luís, foi recitado pela primeira vez no dia 7 de setembro de 2012, no Centro de Cultura Odylo Costa, filho, durante cerimônia comemorativa ao aniversário de 400 anos da cidade, razão pela qual seu primeiro título foi “Poema dos 400 Anos”.


HAGAMENON DE JESUS, poeta maranhense contemporâneo, é autor de dois títulos, The Problem e/ou os poemas da transição, de 2002, e Maria Olívia e Natalino: arquétipos dos séculos XIX e XX, em Noite sobre Alcântara, ensaio vencedor do Concurso Leituras de Romances de Josué Montello, publicado pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão e Casa de Cultura Josué Montello, em 2009. Não havendo maiores empecilhos, e conseguindo alguma grana até o final deste ano (risos), talvez publique seu segundo livro de poesias, 21 ou A Cidade enquanto Azula o Tempo, no ano que vem. É pagar para ver, literalmente.

Comentários

  1. O que gosto na poesia de Hagamenon de Jesus é esse entrelaçar-se de humanidade e a surpresa em versos bem elaborados de verdade.

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