Textual
EU
E CAXIAS, CAXIAS E EU
Sempre tive um enorme
carinho pela cidade de Caxias. Mesmo antes de haver posto os pés em seu solo
fartamente irrigado com a seiva da história, das artes e de um vasto acervo
cultural, eu já me sentia como frequentador de suas inúmeras ruas e ladeiras ou
como um morador imaginário da cidade de onde brotaram flores eternas como
Gonçalves Dias, Vespasiano Ramos, Deo Silva, Manoel Caetano Bandeira de Melo,
Lucy Teixeira, Teófilo Dias, Celso Antônio, Raimundo Teixeira Mendes e Coelho
Neto.
Mas creio que foi lá
pelos anos de 1993 ou 1994 que me aproximei mais da chamada Princesa do Sertão.
O fato foi mais ou menos o seguinte: trabalhava eu no Colégio José Maria do
Amaral, quando uma aluna do terceiro ano do ensino médio chamada Renata (não me
recordo do sobrenome) se aproximou e perguntou se eu aceitaria receber alguns
livros editados na terra dela. Claro que sim. Continuo acreditando que livro e
afeto são sinônimos perfeitos e que é um crime recusar qualquer um dos dois.
Perguntei à aquela doce adolescente de onde ela era e a resposta veio de forma
suave: de Caxias.
Na semana seguinte,
Renata chegou um pacote de livros. Entregou-me na hora do intervalo. Verifiquei
logo que se tratava de um tesouro em forma de presente. Não esperei muito e, no
retorno para casa, dentro do ônibus mesmo, comecei a degustar aqueles livros.
Foi assim que entrei em contato pela primeira vez com a poesia de Firmino
Freitas, Renato Meneses, Fábio Kerouac e alguns outros poetas que se
encontravam reunidos naquelas obras.
Em 2001, tive o prazer
de ler o Balaio de Ilusões, que foi indicado como leitura prévia para o
Vestibular, de Quincas Vilaneto e depois escrevi um modesto artigo sobre esse
livro. Quincas se tornou então um valioso companheiro para conversas sobre
artes e literatura. Li diversos livros desse poeta e sempre o tenho em grande
estima e consideração.
Anos depois, fui
destacado para ministrar aulas de pós-graduação naquela cidade. Passei diversos
finais de semana em Caxias, falando sobre literatura, crítica literária e
linguística. Foi lá, inclusive, que no dia 27 de fevereiro de 2011, pouco antes
de iniciar uma aula, fui informado pela internet do falecimento do escritor
Moacyr Scliar, um dos valorosos nomes de nossa prosa de ficção.
Sempre fui bem recebido
em Caxias, mesmo quando ainda não havia constituído um círculo de amizades com diversos
artistas da cidade. Conheci depois, por intermédio do amigo Claunísio Amorim,
um jovem poeta que acabara de lançar seu livro de estreia: Carvalho Junior,
rapaz brilhante e entusiasmado com as palavras. Acabei escrevendo prefácios
para dois livros desse poeta e me aproximando ainda mais da Cidade e de seu
povo. Hoje Carvalho é uma daquelas pessoas que afetuosamente faz parte daquela
família que nos damos, como lembrava Drummond.
Com o tempo, conheci
também o poeta Wybson Carvalho, um verdadeiro lord no trato com as pessoas, uma
figura amável que cativa as pessoas logo nas primeiras palavras e, além de
todas essas qualidades humanísticas, é também um poeta de grande fôlego e um
grande conhecedor da história de seu povo e das letras maranhenses.
Tempos depois, em plena
Feira do Livro de São Luís, outro caxiense que eu já conhecia a partir de seus
livros materializou-se em forma de ser coberto de poesia e de delicadeza.
Trata-se do querido e talentoso Salgado Maranhão, um dos nomes mais
representativos das letras brasileira na contemporaneidade, a quem não canso de
ler e nem de admirar.
Outro caxiense que
também sempre ilumina minhas leituras é Wilson Marques, um dos mais expressivos
autores da literatura infanto-juvenil e criador de dezenas de narrativas que,
além de trazerem entretenimento, também contribuem para a formação de novos
leitores em todo o Brasil.
Mais recentemente,
também tive a honra de conhecer a escritora Silvana Meneses, autora de poemas
minimalistas nos quais ela consegue, em poucos versos, multiplicar as visões
que temos do Universo. Silvana é uma daquelas escritoras que encantam desde as
primeiras linhas e que deixa no leitor a sensação de que a poesia pode se
tornar um linimento para qualquer ferida da alma.
Dezenas de vezes fui
até Caxias e sempre fui recebido com muito carinho. Inúmeras vezes Caxias veio
até a mim, em forma de música, literatura, estudos, de visita de seus moradores...
e sempre foi e será muito bem recebida por esse admirador dessa cidade que
emana cultura e alegria.
Infelizmente, creio que
nunca mais tenha visto a ex-aluna Renata, mas, silenciosamente, sempre agradeci
a ela por abrir poeticamente portas de sua Cidade para mim e para toda a minha
família.
José Neres escreve às segundas-feiras para o Textual.
Comentários
Postar um comentário