Textual
A MIRAGEM E A CURA DA COVID
Comparo a extinção do novo Corona Vírus, a COVID
19, a uma miragem que surge em pleno deserto e, a cada vez que, nós,
caminhantes sedentos, pensamos estar chegando próximos ao úmido oásis da
salvação, ele se afasta mais um tanto, obrigando-nos a seguir a enganosa
imagem, não se sabe até quando.
Em março, quando iniciamos a prática, pra
valer, do enigmático distanciamento social – como ser social usando máscara e
mantendo distância? –, tínhamos a convicção que em dois meses estaria sanado o
problema e que, em maio, estaríamos nas ruas trabalhando, indo à escola,
convivendo enfim. De maio, passamos a junho, agosto. Em agosto reabriremos tudo,
mais um pouco de paciência. Já vimos que nem em agosto, setembro, ou em
qualquer dos meses seguintes, estaremos liberados.
Em julho, começou a distensão para os
trabalhadores e a maior abertura para os serviços essenciais. Será que estou
falando do Brasil? De uma parte dele. Enquanto pessoas cumprem as regras sanitárias,
afastam-se, de modo estoico, da convivência com filhos e netos queridos, para
evitar o contágio e a superlotação dos hospitais, outros se consideram de
férias merecidas e enchem shoppings e praias numa euforia de animais soltos
após aberta a porteira dos currais.
Não são os trabalhadores buscando o pão dos
filhos, não são os abnegados agentes de saúde, de limpeza e de segurança. Não
são os funcionários dos serviços essenciais, os padeiros, os empregados de
supermercados e farmácias, são os irresponsáveis e vagabundos, muitos deles
recebendo indevidamente o auxílio do governo, atrapalhando nas infindas filas
da Caixa os que realmente merecem o auxílio.
Como se não bastasse estarem amontoados em
lugares indevidos, não obedecem às regras, andam sem máscaras, aos abraços,
comemorando não sei o quê. Às vezes me ponho pensando, se uma limpa, tipo Sodoma
& Gomorra não seria apropriada. Afasto os pensamentos politicamente incorretos.
Gente que esteve na farra, na véspera, vem chorar na TV porque o pai ou a mãe
não encontraram um leito vago na UTI. Eles disseminam o vírus e colaboram para
a superlotação. Os jovens se divertem e os idosos morrem. Será que não entendem?
Onde está a saída? As ondas da COVID vão e
vêm. Nuns estados baixa o número de infectados, noutros, que estavam em baixa,
os números sobem. Uma gangorra. Estados e países, como o Paraná e a Suécia,
citados como exemplos de controle do vírus, estão indo para o pico. A praga
moderna assola países pobres e ricos com a fúria de uma peste medieval. E só
termina quando acaba.
Só nos resta esperar a vacina. Há 5
vacinas sendo desenvolvidas na terceira fase, a de testes com pessoas: a vacina
de Oxford/ Reino Unido; a SINOVAC, a SINOPHARM e a do Instituto Biológico de
Wuhan, todas da China, e a MODERNA/ NIAID, EUA, na qual o governo americano já investiu
um bilhão de dólares.
Segundo a OMS, a de Oxford é a mais
adiantada. Em julho, começou a ser testada em voluntários brasileiros. A
Bio-Manguinhos, da Fio Cruz, será responsável, no Brasil. pela transformação do
princípio ativo e fará a formulação final das vacinas. Animados? Será totalmente
comercializada, provavelmente, em meados de 2021.
A SINOVAC, conveniada com o Instituto Butantã, acena para dezembro. Há que seguir os protocolos da quarta fase, adquirir o registro sanitário e a logística da produção e distribuição. Não será diferente da inglesa.
Quem esperava setembro, esperará dezembro e as promessas da miragem vão se afastando até janeiro, fevereiro e, talvez, tenhamos em julho a vacinação plena. Até lá, a turba, espero, terá que aprender a proteger os mais fragilizados e a respeitar a vida alheia.
Ceres Costa Fernandes escreve às quartas-feiras para o Textual.
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