Textual
CENAS DO CARNAVAL PANDÊMICO
Não pelos profetas,
pelos astrólogos ou pelos bruxos. O primeiro não carnaval da história, foi
previsto pelas marchinhas de carnaval, nas entrelinhas de suas deliciosas
letras, as quais, mudando uma palavrinha aqui outra ali, praticamente anteciparam
o que aconteceu no carnaval deste ano.
1.“Mas este ano não
vai ser igual àquele que passou. Eu não brinquei, você também não brincou. E
aquela fantasia que eu comprei ficou guardada. E a sua também ficou pendurada. “
A marcha acima intitulada
Até quarta-feira, de Paulo Sette, fez grande sucesso em carnavais da década de
60 e 70. Parece que foi feita para o Não Carnaval de 2021, não é mesmo?
2.”Tanto riso, oh,
quanta alegria, mais de mil palhaços no salão. O arlequim está chorando pelo
amor da Colombina, no meio da multidão (...)
Essa marcha-rancho de
Zé Keti, sucesso absoluto de vários carnavais trocando três palavrinhas vira a
cara da Pandemia dessa forma:
“Tanto riso, oh,
tanta alegria. Mais de mil palhaços vendo lives. O chifrudo está chorando pelo
amor de sua mulher, traçada no lockdown.”
3.”Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí. Em
vez de tomar chá com torrada ele tomou Parati. Levava um canivete no cinto e um
pandeiro na mão, sorria quando o povo dizia: “Sossega leão, sossega, Leão!”
Este belo e antológico
samba de Assis Valente pouco precisa ser adaptado para satisfazer a versão
pandêmica.
“Vestiu uma camisa listrada
e saiu por aí. Em vez de tomar chá com torrada ele tomou cloroquina. Levava o álcool
gel na cintura e um celular na mão. E sorria enquanto o povo dizia: “Sossega,
Covid. Sossega Covid!”
4.”OH, jardineira
porque estás tão triste. Mas o que foi que te aconteceu. Foi a Camélia que caiu
do galho, deu dois suspiros depois morreu”
Uma das mais bem-realizadas
marchinhas carnavalescas é de autoria de Benedito Lacerda. Sua versão pandêmica
é bem semelhante:
“Oh, periguete
porque estás tão triste. Mas o que foi que te aconteceu. Foi o coroa que
quebrava teu galho, pegou Covid, depois morreu.”
5.”Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Não vai dar, não vai dar não, você vai ver a grande confusão. Eu vou fazer beber até cair. Me dá me dá me dá oi, me dá um dinheiro aí.”
Esta marchinha, composição
de Ivan e Glauco Ferreira até parece inspirada numa visão premonitória do
carnaval que passou.
“Ei, você aí, me dá
uma vacina aí, me dá uma vacina aí. Não vai dar, não vai dar não, você vai ver
a grande confusão. Não vou ficar nessa fila
até cair, me dá me dá me dá, oi me
dá uma vacina aí.”
6. E, para
finalizar com chave- de- ouro, eis um sucesso que não seria preciso alterar uma
só vírgula para expressar o não-carnaval de 2021. Intitulada Bloco da Solidão a
marcha-rancho foi composta por Evandro Gouveia e Jair Amorim.
“Apanha solidão, um
triste adeus em cada mão. Lá vai, meu bloco vai, só desse jeito é que ele sai.
Na frente sigo eu, levo o estandarte de um amor, o amor que se perdeu no carnaval.
O ano inteiro é todo assim. Por isso quando eu passar batam palmas para mim”
Não é mesmo o fiel retrato
de um Carnaval Pandêmico?
José Ewerton Neto
escreve às quintas-feiras para o Textual.
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