O SIMPLES E O COMPLEXO

em Metábole, de Adriana Gama de Araújo

             Muitas vezes não precisamos falar muito para dizer o que queremos. Empregando poucas palavras, podemos derramar um mar de ideias – triviais, às vezes – mas ainda assim, significativas. Metábole, é uma palavra que dependendo do contexto, pode significar várias coisas, pois no sentido restrito, em uma figura que consiste na repetição, no entanto, em um outro contexto, em vez de repetir ações, há uma multiplicação de significados. Metábole é também o título de uma das obras da escritora, professora e historiadora Adriana Gama de Araújo.



            Ludovicense, a autora de Mural de Nuvens para Dias de Chuva, (2018), TRaNSiTo, (2019), participou da antologia Babaçu Lâmina, além de ter vários poemas publicados em diversas revistas literárias, Adriana Gama tem uma forma própria de escrever, deixando sua própria leveza em seus textos. A construção do sentido versa em cada poema, em cada estrofe, a cada página virada para se chegar ao próximo texto. Adriana é assim, não economiza palavra para dizer o que quer, como em Polifonia para secar o atlântico:

                                              

um dia desses

chama meu nome

só pra eu ouvir

o som que ele tem

na tua boca.

           

            Como disse Roberto Lima no prefácio do livro, a poesia de Adriana “transpira e tem cheiro – e gosto – de água de coco e de mangue maranhense, o sangue pulsante das esquinas e ruas cansadas de São Luís, como os letreiros de neon”. Pode-se dizer também que os versos da autora têm cheiro de mar, de brisa, de vento, de tempestade e de calmaria, doce e suave como sua personalidade. Em pequena viagem ao paraíso,

 

há quatro anos mudei

para o lado da ilha

que fica perto do mar

por causa do ângulo

de inclinação das mãos

ao nos despedirmos

saberemos que será

impossível voltar atrás

e dizer adeus

é uma pequena viagem ao paraíso.

 

            A escritora Adriana Gama traz o dia a dia em seus versos como quem quer deixar uma mensagem sobre coisas simples, como podem ser decifráveis para o bom entendedor, como em Selvageria, em que deve “derrubar a cerca ao redor do próprio umbigo”. Como se dissesse que cada um faça sua parte de acordo com sua própria consciência ou necessidade. Ou ainda em Coisas que aprendi nos livros

 

quando sinto amor

ou desconfio

rapidamente me ponho

a dar voltas no quarteirão

correndo

 

quando não, enfio uma ponta

de lápis debaixo da unha

dá no mesmo.

                                   

            Por fim, dizer que a poesia de Adriana Gama é ideia subjacente de uma realidade vivida pela mesma, mas que cabe a cada um dos leitores, se identificar ou não com suas ideias, ou ainda, que há mensagens ocultas por trás de cada verso ou cada palavra, o leitor mais atento pode decifrar, ou não, quem vai saber?



Linda Barros é escritora, atriz, membro

da Academia Poética Brasileira

Comentários

  1. Gosto muito da poesia desta grande poeta, Adriana. E que bom que você, Linda, nos apresenta um pouco mais do trabalho dela. Juntas somos mais fortes.

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  2. edomir martins de oliveiraterça-feira, 22 abril, 2025

    Gosto muito dos textos de Linda Barros. Gostaria de vê-la publicando mais em nossa Plataforma Nacional do Facetubes. quando ela publica, nunca seus leitores ficam abaixo de 1000 acessos. Parabéns.

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  3. Querida Linda ,
    Que alegria te ler e conhecer um pouco da escritora que apresentaste tão bem . Bravo! Bj gde

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  4. Texto magnífico, que nos permite fazer um breve, porém prazeroso, percurso pela poesia de Adriana Gama. Parabéns, Linda!

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  5. Poderosa como sempre, Linda! A maneira simples com que usas a palavra, encanta! Adriana Gama, por seu turno, é uma poeta que merece, realmente, o nosso respeito e a nossa admiração, dona de uma poesia reconhecidamente forte.

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