GABRIELA LAGES

entre os múltiplos espelhos da poesia

 



Gabriela Lages Veloso nasceu em 24 de novembro de 1997 e descobriu ainda criança que os livros seriam seus grandes companheiros de vida. Aprender a ler e escrever foi uma das suas maiores alegrias na infância, e ela lia de tudo: contos de fadas, histórias em quadrinhos e até as propagandas espalhadas pelas ruas. Esse amor precoce pela leitura virou vocação. Gabriela se formou em Letras, Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e, cheia de curiosidade crítica, mergulhou mais fundo nos livros ao se especializar em Estudos Teóricos e Críticos em Literatura, no mestrado em Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Gabriela Lages compartilha seu entusiasmo literário como colunista no Portal Imirante.com, sempre com textos que respiram literatura e emoção. Mas não para por aí: é também docente do Programa de Formação Continuada Universidade Aberta Intergeracional (UNABI), da UEMA, voltado para o público idoso. Como professora, aposta no letramento literário, uma abordagem que faz a literatura dialogar com a vida real, despertando novos sentidos e conexões entre leitores de todas as idades.

Autora inquieta e premiada, Gabriela publicou Através dos Espelhos de Guimarães Rosa e Jostein Gaarder: reflexos e figurações (Editora Diálogos, 2021) e o elogiado O Mar de Vidro (Caravana, 2023), obra que garantiu o segundo lugar no Prêmio Melhor Livro de Poesia 2024 da Academia Maranhense de Letras. Além de escrever, ela organiza coletâneas que celebram outras vozes: Poéticas Contemporâneas: uma cartografia da escrita de mulheres (Brecci Books, 2023), As Sombras da Cidade (Brecci Books, 2024) e Jogo de Espelhos: entre símbolos e representações literárias (Lema d’Origem, Portugal, 2024). Uma autora que escreve com o coração e organiza com olhar generoso, Gabriela Lages é um nome para se acompanhar com atenção, pois desponta como uma das faces importantes da poesia maranhense contemporânea. Gabriela Lages é a nossa entrevistada da Revel.

 

Bioque Mesito Qual foi o episódio mais inusitado (ou engraçado) que já viveste dentro do cenário poético-literário?

Gabriela Lages Certa vez, no início da minha carreira literária, uma pessoa totalmente desconhecida me enviou uma mensagem no Instagram dizendo: “Tenho uma vida muito interessante, escreva um livro sobre a história da minha vida”, em tom autoritário…

 

 

BM Quem são os poetas e/ou escritores(as) que formaram a Gabriela Lages, e quem gostarias de esquecer que te influenciou?

GL Muitos escritores/as e poetas perpassaram, e perpassam, a minha vida, porque a literatura faz parte de várias nuances da minha trajetória: sou escritora, poeta, crítica literária, professora e pesquisadora de literatura. Os nomes que mais se fazem presentes na minha memória afetiva são Clarice Lispector, Machado de Assis, Jane Austen, Guimarães Rosa, Virginia Woolf, Rubens Figueiredo, Marina Colasanti, Gabriel García Márquez, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, dentre tantos outros prosadores/as e poetas clássicos e contemporâneos que marcaram permanentemente a minha escrita e a minha consciência como ser no mundo. Não gostaria de esquecer nenhum livro ou autor/a, pois todos forjaram em mim temas, técnicas e valores, para o bem e para o mal. Afinal, sempre aprendemos algo com as pessoas, mesmo que seja como não ser.

 

 

BM Para ti, o humor é uma arma de sobrevivência ou uma distração no meio da seriedade literária?

GL O humor é uma arma de sobrevivência, um modo de vida.

 


BM Como tu lidas com a tentação de fazer arte, num mundo que exige tanta responsabilidade de quem escreve?

GL A minha escrita é a minha voz, é o meu lugar no mundo. Nesse espaço, eu não me faço, ou aceito, exigências. A literatura é liberdade.

 

 

BM Se pudesses transformar um grande pesadelo de tua trajetória literária em um poema, qual seria?

GL Eu escreveria sobre o preconceito renitente contra os escritores que ainda não têm livros publicados, pois antes de publicar O Mar de Vidro, apesar de ter ganhado vários concursos literários, ainda não era considerada escritora, por muitos…

 

 

BM Questões ligadas à corporeidade já atravessaram tua poesia? Em que medida teu corpo também é ferramenta de criação?

GL Eu escrevo enquanto uma mulher latino-americana, feminista e jovem, que luta pela igualdade de gênero, social, étnico-racial e contra o etarismo. Somos muito mais do que rótulos.

 

 

BM Já pensaste em desistir da literatura e da poesia?

GL Eu não conseguiria desistir da literatura jamais. Ela já faz parte de mim desde a infância, através da leitura. A escrita literária surgiu apenas na idade adulta, como uma consequência do meu modo de enxergar o mundo, que nunca foi literal, sempre foi poesia.

 


BM Como enxergas a diferença entre escrever para si e escrever para o outro? Já te sentiste presa em alguma dessas direções?

GL Escrever é uma forma de expressão individual. No entanto, quando você escreve com o intuito de publicar, sempre precisa ter em mente que seu texto é uma mensagem em uma garrafa que irá ao encontro de outra alma. Acaba que nenhuma vivência é individual. Tudo que vivemos e sentimos já foi experimentado por outras pessoas. Por isso, não me sinto presa nessas direções, pois tudo que escrevemos sempre irá atingir (positivamente ou negativamente) alguém. Não devemos escrever para agradar as outras pessoas, mas sim para fazê-las sentir algo, seja incômodo, revolta ou o que quer que seja. O importante é sentir algo. O pior que pode acontecer com uma pessoa, ao meu ver, é não sentir mais nada.

 

 

BM  O Mar de Vidro é teu primeiro livro. Que pedaço da Gabriela Lages de antes deixaste para trás ao publicá-lo, que pedaço nasceu junto com ele ou continuas a ser a mesma pessoa?

GL Acredito que estamos em constante mudança. Somos, devemos ser, metamorfoses ambulantes, como diria Raul Seixas. O Mar de Vidro foi escrito aos poucos. Não é um projeto livro. Fui escrevendo os poemas para revistas, jornais e concursos literários, sem nenhuma pretensão. Um dia, percebi que existia uma unidade temática entre eles e escolhi o poema O Mar de Vidro para ser o tema central, e título, do meu livro, por tratar da questão do espelho, tema que estudo e estimo. Então, sim, a cada poema eu mudei, revi caminhos e desconstruí preconceitos.

 

 

BM Tu te sentes mais poeta ou mais prosadora? Ou a cada texto brigas um pouco para descobrir?

GL Desde que me tornei escritora, eu decidi experimentar vários gêneros literários. Comecei com a prosa, escrevendo crônicas e contos. E só depois me aproximei da poesia. Mas meu coração é dividido entre essas duas vertentes, não tenho uma favorita, apesar do meu primeiro livro ser poético.

 

 

BM O que mais mudou em tua persona depois do lançamento de O Mar de Vidro?

GL Após a publicação de O Mar de Vidro, eu me senti muito grata pela repercussão que meu livro teve, principalmente por ter atingido leitores de vários lugares do Maranhão, do Brasil e do mundo. Já recebi a recepção de leitores de Portugal, China e de todos os cantos do Brasil. Recentemente, graças à Globaltec, meu livro está sendo distribuído por várias escolas públicas do Estado do Maranhão. Publicar O Mar de Vidro me fez sentir que deixei um legado, uma pequena parte de mim no mundo.

 


BM  Se pudesses deixar uma mensagem (não um conselho, mas uma provocação) para quem está começando a escrever agora, o que dirias?

GL Escreva sempre, quando estiver bem ou mal, mas não faça da escrita uma prisão ou uma obrigação. Escreva sempre que precisar.



Comentários

  1. Gabriela Lages Velosodomingo, 04 maio, 2025

    Muito obrigada pela entrevista!

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  2. Eu que agradeço pela suas respostas e disponibilidade em respondê-las.

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