TRABALHO É MESMO SINÔNIMO DE DIGNIDADE?

 

Hoje é Dia do Trabalho. Essa atividade humana ajudou a construir e moldar o mundo. Também está intimamente ligada às nossas identidades sociais. Afinal, depois do nosso nome, é a primeira coisa que determina algo sobre o que nós somos: carpinteiros, médicos, garis, comerciários, taxistas, professores, etc. Dito de outra maneira, somos o que somos e o que fazemos.

Atualmente, contudo, além desse modo fundamental de ação que nos constitui enquanto sujeitos, através de empregos, ocupações, funções e tarefas, o trabalho virou sinônimo de exaustão, pressa, metas inalcançáveis e chefes que se escondem atrás de algoritmos.

Aprendi que a gente deve trabalhar para viver — e não o contrário. Cresci ouvindo dizer que o trabalho dignifica o homem (uma frase tão simples quanto bela e profunda). Mas, confesso, nunca me acostumei com o fato de que essa mesma ‘dignidade’ fosse quase um sinônimo de sacrifício.

Não imaginei o tempo livre como um luxo e o descanso como culpa. Afinal, tenho visto como, mesmo quando o expediente acaba, a mente das pessoas segue girando em torno de preocupações da profissão e das demandas do mundo laboral. As mensagens não cessam. As cobranças também não.

Temos sistemas operacionais, ferramentas de produtividade, programas auxiliando em tarefas e a inteligência artificial, mas, ao invés disso aliviar o peso sobre nossas costas, parece gerar novas formas de cobrança, mais sutis e cruéis.

O que resta do indivíduo quando seu mundo gira em torno da produtividade? Quando as horas trabalhadas valem mais que a vida?

Neste 1º de Maio, escolho desacelerar. Escolho pensar nas vidas dilaceradas pelo cansaço, pelas dores e doenças mentais, nos sonhos engolidos pelos turnos intermináveis, nos que trabalham para sobreviver, mas não vivem. E me uno àqueles que acreditam que o mundo do trabalho pode — e deve — ser mais justo.

 Luto hoje não apenas por melhores condições de trabalho, mas por uma vida digna no mundo laboral. Para que a tecnologia sirva à liberdade e não à escravidão e ao controle excessivo. Por um tempo em que a palavra “trabalho” vire sinônimo de “esperança”.

 

Feliz Dia do Trabalho!

 

Rogério Rocha é poeta, filósofo e idealizador

do canal Roger Filósofo - Youtube 

Comentários

  1. Rogério, parabéns pelo texto. Quando colocas o trabalho como sinônimo de esperança, tu humanizas o trabalador, tirando-o daquele status quo de eterno escravo. Puseram fim à escravidão, mas a humanidade é hoje escrava do trabalho (vive pra trabalhar). Que contradição.! Tuas ponderações são oportunas e instigam muitas reflexões que só um amante da Filosofia, como o és, ousa semear. WANDA CUNHA

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