EMERGIR OU FICAR NO ABISSAL Impressões sobre o livro “Como se dissesse água”, de Franck Santos Franck Santos é desses escritores contemporâneos que não quero que falte na minha estante, na cabeceira da minha cama, na mesinha ao lado do sofá, na minha bolsa de viagem. Porque lê-lo é quase um morrer, é quase um viver, é quase um explodir e um implodir ao mesmo tempo; é uma revolução pela qual precisamos passar, se quisermos (sobre)viver. É fazer uma viagem ao nosso próprio interior de maneira única. Sempre que eu leio Franck Santos, eu entro em erupção, viro caos e reflexão, penso nas coisas findas e miúdas e na transitoriedade das coisas vividas. De repente, sou uma mulher de sessenta anos – como a personagem desse livro - em um tempo de catástrofes climáticas, distanciamentos, isolamentos, sentada numa espreguiçadeira no jardim de sua casa, com suas reminiscências, com suas vivências, com as suas indagações sobre o cotidiano, sobre todas as formas do amor e o que é amar, sobre a ...
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Mostrando postagens de junho, 2025
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MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA “Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza” (Clarice Lispector) MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA é o retrato de uma camponesa pintada por Vermeer e se considera um dos seus mais célebres quadros. A pintura nos comove por vários motivos, mas nenhum deles avança em direção ao reino das impressões indescritíveis (que todos temos) em velocidade maior do que a delicadeza que emana de todo o quadro. A mulher não tem um rosto de beleza extraordinária, talvez nem possa ser chamada de bela. O rosto, pequeno, carece de intensidade para chamar a atenção de um olhar desatento. Seus cabelos, cobertos por uma touca, parecem cumprir a obrigação de humildade, coerente com seu destino de moça pobre. No entanto, cabeça virada para trás em direção àquele que a contempla, ela fita demoradamente e continua fitando sem parar como se quisesse contar uma história, a sua história, a história de sua – agor...
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A POÉTICA MUSICAL DE SÉRGIO HABIBE Sérgio Habibe é um dos maiores poetas da música do Maranhão. Já bastaria, para essa constatação, o início da sua música Solidão , onde diz: “São raras as estrelas raras / mas a noite já vem / quem me garante que vai ser diferente” . É um daqueles artistas que fazem da própria vida matéria-prima para a arte. Suas canções são como janelas abertas para a cidade, para o mar e para os silêncios que moram dentro de cada um de nós. Filho da lírica poética que existe em São Luís, ele traduz, em acordes e palavras, aquilo que muitos sentem, mas não conseguem nomear. Habibe aprendeu cedo que a música não é só melodia, é espelho, é porto, é travessia. E é curioso pensar que nem foi ele quem procurou a música; foi ela que veio, puxando-o pela mão, como quem chama para uma caminhada sem rumo, mas cheia de descobertas. Assim, ele seguiu, deixando que o som desenhasse seus próprios caminhos. O violão, primeiro desafinado, depois afinado pelo pai...
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POEMAS MÍNIMOS impressões de Laura Amélia Damous e Wanda Cunha As escritoras maranhenses, Anna Liz e Silvana Meneses, lançam o livro Poesia Mínima , que se trata de um diálogo por meio de uma poética minimalista. O livro será publicado pela editora Terra Cultural, gerenciada pelo sr. Kleber Castro, um grande incentivador de autores maranhenses. Sobre essa obra dessas duas poetas, as escritoras Wanda Cunha e Laura Amélia tecem as suas impressões: Poesia mínima é uma obra que de per si traz um primoroso diferencial : reúne duas escritoras maranhenses da literatura contemporânea de grande quilate literário: Anna Liz e Silvana Meneses. A matéria-prima de suas poesias é a emoção das palavras em sua articulação, que tem como mérito alcançar o leitor por meio da sugestão, da influição e da fruição . Abraçando a poética minimalista, as autoras evocam temas como a vida, o amor, a solidão, a nostalgia, a natureza, numa abordagem introspectiva que não exc...
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A LIÇÃO DO MESTRE Não tenho certeza de que os fatos que vou narrar são produto da imaginação, de um surto, um sonho ou mesmo se aconteceram do modo aqui descrito. O fato é que uma febre chatinha me atacou recentemente, afetando-me a saúde. Com ela também vieram umas vertigens que, além do mal-estar repentino, costumavam turvar a minha visão durante alguns minutos. Mas juro pela alma de Allan Kardec que nada do que lerão vai passar, no máximo, de um breve delírio. Era um fim de tarde calorento em São Luís. Eu vagava pelo centro histórico, nas férias, sem nada para fazer. Foi quando parei diante de uma portinha ladeada por colunas de madeira envelhecida. Na fachada pude ler: “Livraria O Alienista”. Morrendo de curiosidade, entrei. Lá dentro havia um gato angorá preguiçoso, deitado sobre uma pilha de livros, coçando os bigodes e com os olhos semicerrados. As estantes abrigavam nomes imortais que moravam ali: Sousândrade, Cecília Meireles, Susan Sontag, Josué Montello, Ferrei...