CRÔNICA À MODA FABULAR PARA MARIA ISABEL
Por que hoje é o seu aniversário de nascimento
Maria Isabel nasceu como uma daquelas princesas das histórias de
Era uma vez... Com uma estrela na testa. Todos ao seu redor percebiam isso.
Fato mais notado por ser pequena a sua cidade berço: São Bento dos Peris. Menor
ainda naqueles tempos, embora contasse com uma seleta sociedade. Cidade em que
muitos ilustres maranhenses nasceram e de lá se projetaram para o resto do
Brasil.
Maria Isabel também estava fadada a não permanecer muito tempo na
sua cidade natal. Certo dia, lá aportou um jovem e galante advogado, cheio de
sonhos, pronto para defender uma polêmica e alentada questão, portando uma
volumosa valise, cheia de documentos. Por este derradeiro detalhe, foi
identificado como um caixeiro viajante sedutor, e logo rejeitado por meu avô,
feroz guardião de sua princesa com uma estrela na testa.
Mas o amor do jovem advogado apaixonado, logo ao primeiro olhar,
pela bela princesa que contava apenas dezesseis anos, foi decisivo. Enfrentou
com denodo o feroz dragão, digo meu avô, e de imediato pediu a mão de Maria
Isabel. E eles se casaram e tiveram dois filhos. Uma menina desajeitada e um
principezinho louro.
Ela, a princesa com uma estrela na testa, desde cedo, assumiu o
acolhimento das duas famílias. A casa deles e dos dois filhos, por vezes,
abrigava, entre familiares que vinham estudar e os que roubavam moças, e mais
colaboradores, 17 ou mais moradores. Confesso que era uma casa muito animada.
Ele, o herói, morreu muito cedo, vitimado por uma doença cruel, mas
ainda teve tempo de conhecer o neto mais velho, porque a primogênita, seguindo
o conselho da mãe, que lhe rogou que não se casasse aos 16 anos, casou aos 15.
O advogado, jovem e brilhante teve o seu brilho apagado aos 46 anos. Ainda
assim, deixou, para sempre, fortes exemplos e influência marcante em toda a
família. E ela seguiu sendo a matriarca, até ver todos os membros da grande
família encaminhados.
Maria Isabel era uma princesa alegre e descomplicada, nunca deixava
que algo a afligisse por muito tempo, sua filosofia de vida poderia resumir-se
na simples frase, muitas vezes repetida: “no fim dá certo”, quando queria
ousar. Ou, seguindo o dito de sua sábia avó, Rita de Cássia, inspiradora de sua
devoção à santa do mesmo nome: “o que não tem jeito, remediado está”, quando o
caso exigia absoluta conformação. Com essas duas máximas, ia levando a vida.
Eu sempre desconfiei que o verso de Gilberto Gil, “gente é para
brilhar” certamente se referia a ela. Maria Isabel gostava de festas, crianças,
reuniões com amigos e de viagens, correndo mundo, com a estrela na testa, a
reluzir.
Imaginava que a morte, quando a encontrasse, lhe prepararia algo de
diferente, a combinar com a sua vida. Mas, não. Deus tinha outros desígnios
para ela. Sofreu demais com aquela longa enfermidade que os muito velhos têm,
e, após muito lutar, depôs as armas e foi morrendo devagarinho, apagando–se
bruxuleante como uma vela que o vento suave sopra.
Após a morte, o velho corpo combalido pareceu recuperar-se, e
acendeu-se novamente na sua testa a luz da estrela. Partiu para mais uma
viagem, e certamente, transformou-se toda ela em um astro e está do outro lado
da vida a brilhar, desta vez para sempre. Até mais, Mãe.
Ceres Costa Fernandes é escritora,
cronista e membro da AML e da ALL
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