Ariadne Oliveira
por Bioque Mesito
Falar de Suiriri (Caravana, 2024) é como tentar explicar um sonho ao acordar: as palavras vêm, mas sempre ficam aquém da sensação. Ariadne Oliveira entrega poemas que parecem curtos para a densidade do que carregam. São poemas enxutos, mas intensos, que convidam o leitor a degustar cada verso como quem saboreia um prato raro, daqueles que ficam mais na memória do que no paladar.
O livro não apenas se lê, ele se sente. Cada palavra parece ter
sido polida com cuidado e, ao mesmo tempo, deixada com pequenas arestas para
arranhar de leve a pele da leitura. É nesse contraste entre delicadeza e força
que os sentidos se ampliam. Há versos que sussurram, há outros que mordem,
todos carregando aquela energia misteriosa que a boa poesia deixa no ar.
Suiriri evoca de imediato a imagem de um pássaro, e talvez seja esse o voo que a autora deseja provocar: não o deslocamento físico, mas a viagem interior. Sem títulos nos poemas, Ariadne entrega ao leitor a liberdade de nomear suas próprias descobertas, como se cada leitura fosse um batismo único. É um gesto ousado, quase cúmplice, que transforma a experiência em um jogo de sentidos.
Entre as páginas, o leitor encontra labirintos de palavras que,
paradoxalmente, libertam. Ariadne tece uma rede linguística que captura apenas
para mostrar o céu, e não para fechar a visão. Há versos que lembram
confissões, outros soam como enigmas, mas todos revelam uma tensão entre o
humano e o animal, o instinto e o pensamento, a fragilidade e a resistência.
Suiriri nos convida para voar alto com as asas da linguagem, atravessar nuvens de metáforas e pousar, de vez em quando, nos galhos tranquilos da contemplação. É poesia que instiga, desafia e acaricia, às vezes tudo isso ao mesmo tempo, deixando no leitor aquela vontade boa de voltar e reler, como quem revisita um lugar onde o vento tem sempre outro cheiro.
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