ADEUS, FENÔMENO!
A morte do poeta Viriato Gaspar (ocorrida na quarta-feira, dia 17 de
setembro), tomou de assalto o meu dia seguinte. A notícia, que recebi por
intermédio de um amigo, chegou com o impacto de um terremoto.
É difícil aceitar o desaparecimento de um dos mais brilhantes nomes das
nossas letras. Figura que surgiu no cenário local como um fenômeno, ganhando
importantes concursos em sequência, sendo o primeiro com apenas 17 anos de
idade.
Ainda na juventude, Viriato tornou-se um dos membros do Antroponáutica,
movimento artístico-literário que definiu o início da pós-modernidade no âmbito
da criação artística no panorama da capital. Movimento este que, infelizmente,
nunca teve, por parte da nossa intelectualidade, o merecido reconhecimento,
resumindo-se às notas de rodapé dos registros históricos, a artigos esporádicos
nos jornais e a algumas citações em trabalhos acadêmicos.
Em seu fazer estético, o poeta conjugava, com equilíbrio e clareza
inequívocas, estilo, forma e conteúdo. Também estavam presentes a sensibilidade
e apuro técnico no uso da linguagem.
Sempre me impressionou o modo como conseguia fundir características
herdadas da tradição literária com a pulsação moderna, erguendo pontes entre o
passado e o presente.
Pessoalmente, guardarei comigo os ensinamentos que me deixou e as conversas
em que sinalizou caminhos para minha escrita.
Aprendi com ele a ter coragem diante da página em branco e a não temer os
desafios que a vida literária impõe. Em um de seus conselhos disse-me certa
vez: “não tenha medo de ser sincero com o peso da tua palavra, mas não esqueça
a delicadeza que nos salva”. Lição que nenhum manual poderia me oferecer.
O legado de Viriato terá a marca do humanismo, da luta contra as
injustiças, do senso crítico e da amizade que partilhou com aqueles que tiveram
a sorte de com ele conviver.
O Maranhão perdeu, portanto, um de seus modernistas mais ousados, e nós
perdemos um referencial no campo da palavra. Reconheço, com gratidão, a
importância que ele teve para a literatura do Brasil.
Obrigado, Viriato Gaspar, pelos gestos de carinho, pelos conselhos e pelo apoio ao meu trabalho. Obrigado por ter nos permitido caminhar ao seu lado. Do fundo do coração, carregarei comigo a honra de ter conhecido o poeta, o amigo e um homem insubstituível.
Rogério Rocha é poeta, filósofo, autor
de três livros de poemas publicados
Justa homenagem ao grande poeta Viriato. A vida nos dá cada susto, e este em particular, me lembrou o que é a tristeza.
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