DESVENDANDO O INFINITO

 

Desconfia-se que o Infinito   só deu as caras pelo mundo quando alguma   questão estava difícil de resolver. O primeiro recurso dos humanos, como se sabe, sempre foi recorrer a Deus, e — quando este começou a dar para trás — foi necessário inventar o Infinito.

Para questões quantitativas os matemáticos, um belo dia, inventaram o Coeficiente de Segurança K que passou a aparecer nas fórmulas quando a equação não fechava. Óbvio que para questões mais abstratas e poderosas os matemáticos não poderiam se socorrer de um K qualquer e, neste caso, surgiu o Infinito, que surgiu na mesma toada: “Bota um infinito aí na coisa, e pronto, tá resolvida a parada. ”

O infinito, portanto, é uma espécie de coeficiente de segurança da ilusão do conhecimento humano.

1.A HISTÓRIA (Primeira Tentativa)

O problema do infinito — e do seu significado — para a matemática, a filosofia e a teologia era discutido havia mais de 2 mil anos.

Utilizada por Aristóteles, a palavra grega “apeiron” era debatida há muito tempo pela sua multiplicidade de significados. Curiosamente, ela queria dizer sem limites, incerto, absurdamente grande, mas possuía também uma conotação negativa, correspondente ao caos do qual o mundo se formou, ou, em outras palavras, do incognoscível.

Aristóteles, de fato, via a “infinitude” como imperfeição. Foi somente no início da era cristã que se identificou o “infinito” ao “Um” divino. 

Obs. Recentemente, o papa João Paulo II disse: ”Sem Deus as contas não fecham”, mas não tratou do infinito. O fato é que ambos se tangenciam, mas é bom não mexer nesse assunto, justamente porque entre Deus e o Infinito ninguém sabe onde termina um e começa outro e não pegaria muito bem botar Deus numa fórmula porque aí sim é que a briga da Ciência com a Igreja não chegaria ao fim.

2.A HISTÓRIA (Segunda Tentativa)

Foi o sacerdote e matemático inglês John Wallis (1616-1703) quem usou o símbolo do infinito pela primeira vez na matemática, em 1655. Sobre esse uso não se sabe até hoje no que Wallis se baseou, mas há argumentos de que a escolha tenha se inspirado no numeral romano mil, utilizado na época como sinônimo de muitos. E sua forma naquele período lembra mesmo o símbolo do infinito: CƆ, um oito deitado.

3. A VERDADE (Terceira Tentativa). Para um sujeito tão complicado assim, como o Infinito, talvez seja mais exequível buscar desvendar a sua verdade via poesia.

Foi o que tentou fazer, um dia, dia determinado autor em seu livro Cidade   Aritmética:

O infinito, na Matemática/ mal consegue disfarçar/ sua sina de impostor.

Suas mãos úmidas de estrelas/ ao cravar-se nas fórmulas/ da essência dos signos se apropria e reluz a insana farsa/ de caber-se no tempo sendo eterno// na fração sendo infinito.

 Pela soberba, talvez, de sendo tudo/ Imaginar que só lhe basta/Vestir-se do avesso para ser nada.

 


José Ewerton Neto é poeta, escritor, membro

da Academia Maranhense de Letras

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