DO PAU DE ARARA AO CARRO DE
BOI
a
educação em marcha lenta
No dia 17/06/2025, a TV Mirante e o portal G1-MA noticiaram que os
estudantes da Escola Municipal Ricardo Ribeiro da Silva, localizada na praia de
Guarapiranga, na comunidade de Nova Jerusalém, no município de São José de
Ribamar, estavam sendo transportados em uma caminhonete no estilo “pau de
arara”, em uma via que deveria ter sido asfaltada. Na ocasião, os moradores
protestaram e denunciaram que os alunos enfrentavam diariamente uma jornada
marcada por riscos, improvisos e falta de infraestrutura adequada. A reportagem
constatou que o transporte precário substituiu o serviço de ônibus escolar
oficial, que deixou de atender à comunidade devido às dificuldades na estrada
de acesso, onde vivem aproximadamente 400 famílias. Desde há menos de uma
semana, crianças e adolescentes entre 6 e 14 anos têm sido levados à escola em
um veículo sem condições de segurança, transportados em cima de uma
caminhonete, sobre buracos e com pouca ou nenhuma proteção.
Em 23/03/2024, a Rádio Web Focus Hits de Barreirinhas-MA, por meio do
portal Neto Ferreira, publicou a notícia de que a Prefeitura de Carolina está
proibida de utilizar “pau de arara” como transporte escolar. O prefeito e o
secretário de Educação foram obrigados a comprovar que todas as rotas contam,
além do motorista, com dois monitores nos ônibus ou um monitor nos veículos
menores. Após pedido do Ministério Público do Maranhão (MPMA), a Justiça
determinou, em janeiro deste ano, que a Prefeitura de Carolina regularizasse o
serviço de transporte escolar no município, sob pena de multa diária de R$ 10
mil, a ser transferida ao Fundo Municipal de Direitos da Criança e do
Adolescente.
O Jornal Pequeno, em 20/03/2024, noticiou que o pai de um aluno denunciou o
transporte escolar irregular em “pau de arara” no município de Amarante do
Maranhão. O Ministério Público instaurou um procedimento administrativo com o
objetivo de acompanhar e fiscalizar a qualidade e a regularidade do transporte
escolar no município. A apuração foi determinada após denúncia feita por um pai
de aluno da rede pública municipal, que relatou diversos problemas relacionados
ao transporte escolar dos filhos e de tantos outros estudantes que residem nas
localidades de Água Preta, Pifeiros e Fazenda Visão Nova, na zona rural de
Amarante. De acordo com a denúncia encaminhada ao Ministério Público Estadual,
parte do transporte escolar dessas localidades é realizado por uma caminhonete
de carroceria, popularmente conhecida como “pau de arara”, veículo totalmente
inadequado para essa finalidade. Vale ressaltar que o transporte escolar em
Amarante é frequentemente interrompido devido ao péssimo estado de conservação
da estrada que dá acesso às localidades e aos constantes problemas mecânicos
das caminhonetes, o que coloca os estudantes em risco iminente.
O portal Reais Notícias, em 14/05/2024, noticiou que um aluno da rede
municipal de Paraibano passou por cirurgia após cair de um transporte escolar
tipo “pau de arara” na zona rural do município. O adolescente de 14 anos,
morador do povoado Juçara, quebrou o braço após cair de um veículo alugado pela
prefeitura para realizar o transporte escolar até a Unidade Escolar Padre
Constantino Vieira, no povoado Poço Verde.
No mês de novembro de 2023, o jornalista Pedro Bertoldo, do Jornal Mais
Maranhão, publicou a notícia de que alunos da rede municipal de ensino da
cidade de Barra do Corda vão à escola em carroça, por falta de transporte
escolar. Segundo os moradores, a ausência desse serviço tem sido um grande
problema para os estudantes da região. A falta de transporte escolar tem
obrigado alunos da zona rural do município a recorrerem a meios precários e
inseguros para acessar a educação. Um vídeo divulgado, capturado no povoado
Cachoeirinha, expõe a realidade enfrentada pelos alunos. Nas imagens, crianças
da rede pública são vistas retornando da escola em um “carro de boi”, meio de
transporte rudimentar e desprovido de condições adequadas de segurança. As
cenas revelam a inocência das crianças, alheias ao fato de que um direito
essencial, garantido por lei, está sendo negado a elas: o acesso a um
transporte escolar de qualidade e seguro. Segundo informações de moradores
locais, essa não é uma situação isolada, mas sim um problema constante que
afeta os estudantes da região. A falta de um meio de transporte adequado não
apenas coloca em risco a segurança dos alunos, mas também impacta diretamente o
seu direito à educação, uma vez que o acesso à escola se torna uma jornada desafiadora
e arriscada.
O “pau de arara” é um veículo de transporte utilizado principalmente em
regiões rurais do Brasil. Consiste em uma carroceria de madeira ou metal,
geralmente aberta, fixada sobre o chassi de um caminhão. O nome “pau de arara”
deriva da semelhança do veículo com o habitat natural das aves (Fonte:
Wikipedia).
A carroça é um carro grosseiro, quase sempre feito de madeira, geralmente
puxado por animais, utilizado para transporte de cargas (Fonte: Wikipedia).
O carro de boi, ou carro de bois, é um dos mais primitivos e simples meios
de transporte, ainda em uso em áreas rurais, utilizado para o transporte de
cargas (Fonte: Wikipedia).
No início de 2014, o Ministério Público Estadual (MPE), o Ministério
Público de Contas (MPC) e a Controladoria-Geral da União – Regional Maranhão
iniciaram a execução do projeto “Transporte Escolar: uma questão de dignidade e
justiça”, desenvolvido com o objetivo de assegurar a prestação adequada do
serviço de transporte escolar para os estudantes da rede pública de ensino do
Estado do Maranhão.
Infelizmente, mesmo com a intervenção dos órgãos de fiscalização, a
situação não mudou. É inacreditável que, em pleno século XXI, os gestores
municipais de São José de Ribamar, Carolina, Amarante, Paraibano e Barra do
Corda permitam que estudantes sejam transportados em veículos inseguros,
conhecidos como “pau de arara”, carroça e carro de boi. São casos recentes,
registrados em nosso estado, coincidentemente um dos mais pobres da região
Nordeste.
Usado como meio de transporte irregular, o pau de arara foi reconhecido
como patrimônio cultural brasileiro no ano de 2023.
Tudo bem, então! Só que não serve para o transporte de estudantes nos
municípios maranhenses, que correm risco de vida no trajeto até a escola.
Gilmar Pereira Santos é advogado e escritor de livros infantis


Excelente!
ResponderExcluirTiro meu chapéu..para suas denúncias...inacreditável, em pleno século..as autoridades responsáveis por esse absurdo, ignoram tal fato...
ResponderExcluirGilmar, o combativo.
ResponderExcluirInfelizmente o poder público ainda agir como se vivência em uma época de escravidão, ao o ser humano é tratado como animal.
ResponderExcluirGrande baixadeiro, romancista e poeta,pramim a câmara de vereadores deve prestar uma grande homenagem ao Sr,os políticos não tem nenhum interesse em da educação ao seu povo,pra poderem continuar como Massa de manobra.
ResponderExcluir* municipio de penalva
ExcluirParabéns pelo texto, Dr Gilmar, mais uma vez demonstrando seu compromisso com a justiça social. Um texto necessário, sensível e corajoso.
ResponderExcluirE pensar que se apurar nesses Municípios nos exercícios citados existiam licitações e pagamentos para transporte dos alunos em ônibus. É muita maldade e ganância
ResponderExcluirEm poucas linhas, o texto expõe uma realidade dura e urgente, mostrando sensibilidade ao destacar as condições dos alunos e a falta de ação do poder público. É uma escrita coerente, informativa e socialmente engajada — o tipo de texto que cumpre seu papel de conscientizar e provocar mudanças.
ResponderExcluirA comunidade em geral tem que cobrar mais das autoridades competentes melhores condições de trabalho , tanto em transporte e estrada ficar calado é o pior negócio.
ResponderExcluirTexto show meu poeta... parabéns
ResponderExcluirGostei muito do texto, isso nos mostra como a coragem é essencial, obrigada por conhecer uma pessoa incrível como vc, suas ideias são realmente positivas .
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