Textual

LUZ A CAMINHO

 

Estou seguindo o exemplo de um grande amigo que tem publicado no Face seu zen poético através dos haicais, e criei coragem para publicar também alguns dos meus, de entre 2005 e 2016. Hora mais aproximados da proposta (exitosos); hora apenas “no rumo”, já que somos mesmo ocidentais, sem talvez a extensão da profundidade espiritual que essa arte exige. Mas escrever esse tipo de texto, difíceis, e os ler, é para mim sempre um refrigério.

Meu amigo certamente irá alegrar-se do seu estímulo. Obrigado, grande Dyl Pires.  E outros/as praticantes ou companheiros/as de senda, como Silvana Menezes, Lúcia Santos, Viriato Gaspar (Sáfara Safra...)...

Seguem alguns dos haicais que tenho feito ao longo da estrada. Alguns estão na sessão “Folhas respingadas de acaso”, do meu livro “Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis”.

Outros ainda aguardando, adormecidos.

 

 nascendo da névoa

         minha xícara de café

beira a janela

 

sol sobre a árvore

      a trilha que se alonga

nasce em meus olhos

 

 

tereza tereza

          preciso acordar cedo

alguns não têm sol

 

o sol sorve a noite

             eu sorvo meu café

estamos quites

a grama cresce

sob o orvalho

tem esperança

 

 

 

correntes de água

       na primavera as fadas

têm peixes nos dedos

 

 

plantadas em casa

samambaias nos xaxins

sonham primaveras

 

 

rã vendo o orvalho

manhã de agradável susto

olhos verde-musgo

 

 

chuva de noite

de manhã me colhem

bem-te-vis

 

vestidinha de terbrim

há quanto tempo, joaninha,

não pousavas em mim!

 

domingo de sol

minhas roupas de menino

ficaram curtas

 

 

pendurado no alpendre

o arreio do cavalo

domingo traz gente

 

 

a realidade sangra

e eu só trouxe ao campo

o meu cavalo

 

meu pai está morto

a lua ilumina as cruzes

do oratório barroco

 

 

libélulas libélulas

       luziluzindo

as asas da água 

 

ich

o bebum engole

mais uma lua

 

no imenso pátio

só pra lua ouvir

faz pipi nas calças

 

 

túmulo de Issa

velho grilo que o guarda

dá-me este assento

 

Antonio Aílton escreve aos domingos para o Textual.

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