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SANTO AMARO, UM PARAÍSO

 


No dia 22 de julho, após vários meses de reclusão, não suportei mais a saudade de estar em Barreirinhas, de parar e deitar em uma rede à sombra de um pequizeiro, de rever amigos, de sentar ao redor de uma mesa e jogar conversa fora e botei o pé na estrada, com minha esposa Lu. Antes de chegarmos, passamos um dia em Santo Amaro, um verdadeiro paraíso, um local que, sem dúvidas, se estivesse localizado em outro estado do Nordeste brasileiro, seria um verdadeiro chamariz para turistas do mundo inteiro. Porém, como está localizada no Maranhão, estado onde tudo fica impossível de se fazer, continua ainda um pouco, digamos... bem, leitor(a), use sua imaginação e coloque as palavras certas. 

Chegando à cidade, nos dirigimos à pousada, que, diga-se de passagem, é cinco estrelas para a cidade. Dentre muitas atrações como dunas, culinária maravilhosa, escolhemos primeiramente um passeio pelas dunas, devidamente instruídos para que não levássemos bebidas alcoólicas e que todo o lixo produzido deveria ser acondicionado em uma sacola, para que depois fosse entregue ao motorista do carro que nos transportava. 

Realmente uma paisagem fascinante, verdadeiro paraíso aqui na terra, um deserto de areias brancas e oásis; piscinas naturais com água da chuva represada em depressão formando piscinas com profundidades de até 10 metros, segundo nosso guia. Água transparente, podendo ver o fundo, com peixes a nos beliscar, fazendo uma verdadeira limpeza em nossas pernas e pés. 


Santo Amaro: paraíso dos Lençóis Maranhenses

Perdíamos de vista o horizonte, dunas e mais dunas à nossa frente. Por indicação do Alexandre, nosso motorista, subimos numa duna que, conforme ele, estaria a mais ou menos cinquenta metros, a fim de vermos o maravilhoso pôr do sol. Ao chegarmos no topo, logo nos encantamos com a paisagem, vimos que no horizonte o astro-rei nos aguardava, preparado para um verdadeiro show mostrado pela natureza. Céu azul, nuvens esparsas, eu querendo percorrer aquele cenário, iniciei uma caminhada, quando, de repente, duas gaivotas começaram a me seguir, fazendo voos rasantes sob minha cabeça, cantando freneticamente um canto de aviso. Nada entendi, apenas com muito receio parei e fiquei a observar o evento assustador, chegada a sentir o deslocamento do ar provocado por suas asas. Não entendia nada, até que o nosso guia falou que eu provavelmente estava muito perto do ninho que elas, o casal, teriam feito nas dunas, onde estava caminhando. Em outras palavras, eu estava agredindo a natureza e o seu território.

Voltando encontrei uma fila de cadeiras já disposta em um lugar maravilhoso, com uma vista privilegiadíssima. Eu estava pronto para deslumbrar um espetáculo de primeira grandeza, digno dos maiores e melhores filmes das grandes companhias cinematográficas. 

Olhar fixo, pensamento solto em busca de emoção e inspiração, o sol com seu trajeto em curso avisara que estava a percorrer o céu, deixando para trás o dia, e preparando-se para a noite que ali chegava, pessoas, com ou sem inspiração, observavam sua descida, celulares a postos, fotos e mais fotos, self, paisagens e muito mais. 

Às vezes, porém, o roteiro está pronto e, de repente, o ator é imediatamente surpreendido por um coadjuvante, que não tendo o papel principal, priva a plateia de uma grande performance. E foi exatamente o que aconteceu, o sol, preparando seu espetáculo e, do nada, chega um ator coadjuvante estragando, uma nuvem um pouco cinzenta, querendo roubar a cena, o nosso astro querendo desesperadamente nos agradar, e a dita nuvem a estragar o cenário. 

E assim nosso espetáculo foi terminado, certamente deixando frustrados todos que ali se encontravam para assistir um fantástico pôr do sol, fumei, um pouco decepcionado com a atitude daquela nuvem de cor cinza, que imediatamente apareceu e estragou nossa paisagem. Às vezes isso acontece também em nossas vidas, nos preparamos para um grande dia, um grande momento e, do nada, nuvens invejosas aparecem e nos privam de algo brilhante. Às vezes, somos ofuscados por nuvens invejosas e ao mesmo tempo traiçoeiras, que nos impedem de usufruir de um espetáculo primordial. 

É a vida nos pregando peças a toda hora. 

 

Roberto Franklin escreve aos sábados para o Textual.

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