Textual
A FOGUEIRA
Parecia tudo tão real, de repente me vi
transportado para tempos atrás, relembrei das alegrias, lágrimas, emoções. Parecia tudo real, as pessoas, os lugares, as
situações, as datas.
Em primeiro plano vi uma pessoa que
marcou a vida de todos nós, com sua tradicional bermuda branca, banho tomado,
pronto para partir em busca de mais um final de semana, Corcel marrom de capota
preta, em direção à praia do Araçagi. O carro abarrotado de objetos, uma
perfeita mudança. No carro sentia-se um
maravilhoso cheiro de pão fresco, frios e outras guloseimas.
Partíamos em direção a uma casa, lá
onde traçara meus primeiros passos junto à felicidade conjugal. Uma casa
simples, tijolo aparente, piso de cimento, sem forro, paredes levantadas até a
altura do portal. E ali iniciávamos uma série de conversa à mesa, antes mesmo
do jantar.
Não sei como explicar, mas fomos
transportados para a casa grande, bem-acabada e decorada. Estávamos em meio a
uma grande festa, percebi que era uma festa de São João, fogueiras espalhadas,
aumentavam com o decorrer dos anos. Comida, música, estrondos de fogos.
A grande festa era sempre organizada de
maneira bem alegre pelo meu sogro e minha sogra e ali reuniam a família. Quatro
filhos, com suas respectivas famílias e demais convidados. O detalhe mais
importante da festa era o presente que o grande anfitrião, avô dos nossos
filhos, trazia. Previamente separado, cada um em sua caixa, esperava o momento
certo seus netos chegarem.
Era como um ritual, já conhecíamos
todas as etapas. A chegada quase sempre
simultânea, alguns instantes separavam a parada do carro e o abrir da porta e
os netos já saiam correndo em direção ao querido avô, ansiosos por receberem
sua caixa de fogos. O alvoroço tomava conta deles e já queriam sair se
divertindo, acendendo seus fogos e lançando suas bombinhas, mas para que nada
pudesse dar errado, recebiam também uma vela, para que não manejassem as
bombinhas e o fósforo ao mesmo tempo.
Os fogos eram usados de forma regrada e
assim eles tinham a certeza de que a noite seria longa e não os faltaria o que
acender.
Dias e momentos simples, época bem
vivida que nunca deveríamos deixar se apagar.
A fogueira símbolo de uma época, marca de um tempo. A fogueira parece já
apagada, os netos cresceram, alguns partiram, outros buscaram novos caminhos.
Mas a saudade nunca passou.
Acordei e percebi que fora apenas um
sonho, porém muito real, que privilégio ter esta recordação. Momentos felizes e até amargos estão vivos em
nossas mentes, não deveriam nunca se apagar.
Quem sabe um dia, aquela fogueira de
bambu chegue aos céus, a fim de avisar que daqui da terra recordamos os
momentos felizes que passamos juntos.
Foi tudo um sonho... foi tudo
realidade, vivida em tempos outrora. Tempos que não voltam mais. Momentos
felizes que dividimos e guardaremos para sempre em nossos corações e em nossas
memórias.
Roberto Franklin escreve aos sábados para o Textual.
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