Textual
SÍLFIDE
Lá
vinha a Sílfide desfilando pelo corredor da escola. Passava, graciosa, por
entre o nosso grupo de meninos e nem dava trela para as gracinhas que lhe
jogávamos. A Sílfide era simplesmente a menina mais desejada de toda a escola,
nos dois turnos. E por todos, do professor de Matemática ao guri que vendia
picolé no portão de saída. E ela sabia disso.
Tanta
atenção só podia ser por uma coisa: era a única menina magricela e de peitões
que havia por ali. As outras nem chegavam perto. Eram, quando muito, aquele
tipinho de menina-boneca. Os peitões da Sílfide lhe davam um outro ar, de
menina-mulher ou de mulher-objeto.
Quem
pôs o apelido nela foi um novato, ainda na sétima série. Todo mundo conhece a
história. Um dia ela estava numa roda de meninas e o novato, um bestinha metido
a intelectual, chegou perto e atacou: “Você parece uma sílfide”. Ela não
entendeu na hora, mas gostou do nome e, principalmente, da comparação. O
bestinha ia explicar o que queria dizer, mas foi engolido pelo alvoroço das
meninas, que davam gritinhos de excitação e jogavam frases insinuantes. A
Sílfide retribuiu o elogio com muitos amassos e beijos na boca, no parquinho.
Depois dispensou o bestinha, que ficou como um louco atrás dela, chorando e
pedindo volta. No fim do ano ele saiu da escola.
Ela
passou então a ser chamada simplesmente de Sílfide, isso já tem quatro anos. Muita
gente nem sabe o nome dela. Até os professores entraram na onda e chamam ela
assim, na hora da frequência.
Este
ano é a formatura da turma dela. Ouvi alguém dizer que ela vai embora, o pai
pediu transferência da construtora e vai para outra obra, na capital. Sei que
por aqui ninguém comeu ela, nunca ouvi um comentário nem de que alguém tentou.
A Sílfide não ficou com ninguém esses anos todos, só com o bestinha, que foi
para pagar o nome. Ela vai deixar saudade.
Marcos Fábio Belo Matos escreve às terças-feiras para o Textual.
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