Textual
CINCO OBRAS QUE ADOREI LER RECENTEMENTE
A leitura é vista por alguns
como um ato solitário. Geralmente, quem não é muito afeito à leitura imagina
que ela se constitui de um monólogo no qual o autor, quase sempre alguém já
falecido, derrama suas ideias nos olhos e na mente de um receptor passivo que
aceita tudo, depois fecha o livro e vai viver sua vida como se nada houvesse
acontecido. Mas não é bem assim...
Ler não é um ato monológico,
e sim um diálogo constante entre o pensamento/conhecimento do leitor e as
ideias dos autores lidos. Um livro não é um objeto morto, mas sim um elemento
pulsante que se adapta às situações e às diferentes épocas que podem separar
(ou unir) gerações por meio de palavras, frases, versos, estrofes ou
parágrafos.
É muito difícil alguém sair
de uma leitura – por mais superficial que ela aparente ser – da mesma forma que
entrou. Algum conhecimento acaba ficando tatuado no âmago do leitor,
modificando, de alguma forma, o modo como ele interage com o mundo, com as
pessoas ou até consigo próprio.
Mesmo que praticamente
ninguém queira saber, passo agora a fazer breves comentários sobre cinco livros
que li recentemente e os quais recomendo para todos leitores, sejam eles
considerados iniciantes, médios ou avançados. Os livros não costumam fazer essa
distinção e se abrem democraticamente a todos os que os procuram, embora não se
possa negar que seja necessário um investimento pecuniário ou pelo menos em
forma de disposição e tempo para que essa ação se realize.
Livro 1 – AS MULHERES DO
BRASIL – A HISTÓRIA NÃO CONTADA, de Paulo Rezzutti (Editora Leya, 2018, 315 páginas)
– Trata-se de uma longa, exaustiva e bem elaborada pesquisa sobre a
participação das mulheres na história do Brasil. O autor traça o perfil de
diversas personalidades femininas (algumas quase desconhecidas do grande
público) e demonstra como houve um apagamento de algumas ações de nossa
história em prol de um protagonismo masculino. A leitura é agradável e prende a
atenção de qualquer pessoa que se interesse pelo tema, ou mesmo de quem
apresente interesses apenas pontuais por uma ou outra das mulheres estudadas.
Livro 2 – TESTEMUNHA OCULAR:
O USO DE IMAGENS COMO EVIDÊNCIA HISTÓRICA, de Peter Burke (Editora Unesp, 2017,
308 páginas). Embora seja uma obra de cunho teórico que apresenta foco de
interesse aparentemente delimitado especificamente a pesquisadores, a escrita
de Peter Burke é fluida e atraente, além de dialogar com variados campos do
saber, como Psicanálise, Antropologia, Artes Visuais, Cinema e muitos outros
conhecimentos. A leitura exige bastante atenção, mas o texto elegante e as
ilustrações transformam o contato com esse livro em uma bela experiência capaz
de alterar radicalmente a forma de o leitor se relacionar com as imagens que
sempre o cercaram e muitas vezes passaram despercebidas.
Livro 3 – AS VERDADES QUE
ELA NÃO DIZ, de Marcelo Rubem Paiva (Editora Foz, 2012, 191 páginas). Dono de
um estilo bastante leve e claro, Marcelo Rubens Paiva aproveita suas crônicas
para discutir de modo bem humorado, e até certo ponto cáustico, as relações
familiares e as diversas fraturas sociais que podem advir de um convívio com
alguém com quem convivemos, mas a quem nem sempre conhecemos de verdade. Cada
texto pode ser lido em um fôlego e nos levam a perceber o que se esconde por
trás das palavras ditas e até das que nunca são verbalmente expostas durante um
diálogo.
Livro 4 – A ERA DOS
EXTREMOS: O BREVE SÉCULO XX (1914-1991), de Eric Hobsbawn (Companhia das
Letras, 1995, 598 páginas). Apesar de ser uma obra bastante volumosa e que
assusta pela profundidade das análises, trata-se de um livro essencial para
quem pretende compreender um pouco mais o nosso momento histórico
contemporâneo. O livro, apesar de poder ser lido de modo isolado, acaba
convidando para um contato com outras obras do autor. A riqueza de informações
pede uma leitura mais tranquila e preocupadas com os detalhes históricos que se
encaixam como se formassem um grande quebra-cabeças.
Livro 5 - A SOCIEDADE DOS
RISCOS: RUMO A UMA OUTRA MODERNIDADE, de Ulrich Beck, Editora 34, 2019, 383
páginas). Outro livro que exige uma leitura bastante atenta, mas no qual o
leitor acaba recompensado pela fluidez do raciocínio do autor e seus mergulhos
em exemplos que acabam clareando sua tese principal: vivemos em constantes
riscos e eles não são aleatórios, muito pelo contrário, parecem ser
orquestrados para terem um determinado efeito dentro de um sistema. Esse livro
de Beck é um dos pilares de sustentação do pensamento contemporâneo.
Pronto. Acima estão cinco
sugestões de leitura para quem deseja iniciar um ano acompanhado pelas páginas
de um belo livro.
José Neres escreve às segundas-feiras para o Textual.
Excelente, José Neres! Todos com certeza agradecemos pela dicas generosas, por compartilhares conosco obras tão fundamentais e fazer esse sempre necessário elogio-estímulo à leitura!
ResponderExcluirObrigado, amigo Antônio Ailton. É sempre importante estimular a leitura
ExcluirProfessor achei fascinante as indicações e vou buscar a obra As mulheres do Brasil para iniciar minha leitura. Este livro encontro na livraria da AML?
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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