Textual
UMA VICTORIA DA LITERATURA BRASILEIRA
No artigo anterior, comentei que há certa dificuldade (ou mesmo
desinteresse) na divulgação dos livros e dos autores brasileiros entre as novas
gerações de leitores. É realmente lamentável que alguns talentosos escritores
continuem praticamente desconhecidos diante de uma multidão de jovens leitores
que preferem mergulhar nas águas da literatura estrangeira sem preocupação em
pelo menos conhecerem o que se produz na própria terra.
No entanto, felizmente, há alguns escritores que têm conseguido
consolidar seus nomes mesmo diante de tantas adversidades. É o caso do jovem
romancista e roteirista Raphael Montes, que vem despontando como um dos bons
nomes da ficção nacional.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1990, o escritor vem, desde 2012,
publicando livros que mesclam pesquisas, abordagens psicopatológicas, suspense
e elementos do que há de melhor da literatura policial. Ele é autor de Suicidas
(2012), Dias perfeitos (2014), O Vilarejo (2015), Bom dia,
Verônica (2016, em parceria com Illana Casoy), Jantar secreto (2016)
e Uma mulher no escuro (2019), além de participar de diversas
antologias.
O autor costuma temperar suas obras com enredos bem elaborados com
alternâncias de ritmos, nuances e tonalidades ao longo das narrativas,
interesse pelos aspectos comportamentais das personagens, suspense e múltiplas
camadas de ações investigativas que buscam surpreender o leitor a cada
capítulo.
Em seu mais recente romance – Uma mulher no escuro (Companhia das
Letras, 254 páginas), o jovem escritor leva-nos a acompanhar o dia a dia de
Victoria, uma garota que sobreviveu a uma tragédia e passa por tratamento
psiquiátrico para tentar levar uma vida menos atribulada.
Visivelmente antissocial, Victoria sente dificuldade de aproximar-se das
pessoas e faz questão de levantar barreiras entre si e as demais personagens
que se apresentam paulatinamente na história. Como se trata de um romance
policial, as peças essenciais para a resolução do mistério que nubla a vida da
protagonista são apresentadas aos poucos... e sempre com o intuito de levar o
leitor a tentar desvendar o labiríntico quebra-cabeças que remete a um passado
que precisa ser recuperado.
Aos poucos, personagens como Arroz, Georges, Doutor Max, Sofia, delegado
Aquino e Emília vão saindo das sombras e passam a descortinar um passado
desconhecido por uns e temido por outros. A cada capítulo, as surpresas se
multiplicam e as fissuras sociais e comportamentais ganham novas dimensões. Como
ocorrem nos espetáculos de prestidigitação, o leitor deve ficar atento para não
cair nos truques de ilusionismos propostos pelo autor.
Em sua prosa, Raphael Montes utiliza uma linguagem límpida e crua ao
mesmo tempo e, embora alguns pontos do suspense tenham seus desfechos
previsíveis, é impossível negar o talento do autor na tessitura do enredo e no
encaixe das tramas necessárias para a compressão das peripécias que compõem o intrincado
cenário narrativo.
Trata-se de um bom romance policial que prende o leitor e o faz
mergulhar no mundo da imaginação, além de possibilitar o contato com inúmeros
pontos obscuros do comportamento humano.
Raphael Montes é um desses talentosos escritores que, a contar pelo
ritmo e pela qualidade de suas produções, deixará suas marcas na história de
nossa literatura.
José Neres escreve às segundas-feiras para o Textual.
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