CONCISÃO, VELOCIDADE, PRECISÃO
“Prolixo. Pro-lixo. Conciso. Com siso.”
José Paulo Paes
Luiza
Cantanhêde e Silvana Meneses são duas escritoras maranhenses contemporâneas que
apresentam nas suas produções poemas contundentes, breves, profundos e com
metáforas fortes – concisos e incisivos – tocam onde tem de tocar.
Constituindo-se, portanto, poemas que apresentam valores (concisão e brevidade)
presentes ao longo de toda tradição literária, que na modernidade se
transformaram em protagonistas no fazer poético.
Desde a
Antiguidade a concisão é valorizada “porque o excesso de palavras era visto
como puro ornamento, afastamento da verdade, e, no caso da oratória, cansava o
ouvinte” (PERRONE-MOISÉS, 2003, p. 156). Tanto que em sua poética, Aristóteles
exulta a tragédia pela sua brevidade afirmando que “resulta mais grato o
condensado que o difuso por largo tempo” (ARISTÓTELES, 1966, p. 471). Também
Horácio na sua versão latina da poética valorizaria sobremaneira a brevidade,
opondo-a ao supérfluo:
[...] Os poetas desejam ou ser úteis, ou deleitar, ou dizer coisas ao
mesmo tempo agradáveis e proveitosas para a vida. O que quer que se preceitue,
seja breve, para que, numa expressão concisa, o recolham docilmente os
espíritos e fielmente o guardem; dum peito já cheio extravasa tudo que é
supérfluo. [...]
As duas poetas
sabem a lição e, com a velocidade de um míssil, dão um tiro certeiro no leitor,
que se espanta, se choca e se recolhe para depois respirar e refletir.
Luiza traz concisão, irreverência, coloquialidade na sua poesia,
fala a língua do povo sem deixar de ser culta, uma poesia carregada de
metáforas surpreendentes (parece pleonasmo, mas não é). Da terra, do menos favorecido,
do feminicídio, das dores da humanidade brota a sua poesia, como podemos
confirmar nos seguintes versos “Sou essa terra de chão batido/esse sertão da
língua cinza (a cabaça); de toda agonia brota a minha poesia (nascente); E a
esperança é a senha para a poética de Luiza – “Há uma manhã nascendo/sobre meus
remendos. Poemas curtos, mas que vão no âmago. Eu diria que Luiza sabe atingir
o coração da poesia e do leitor sem muitas voltas, ela é certeira.
Por sua vez, Silvana também apresenta poemas concisos, cheios de
metáforas fortes, assonâncias, aliterações, são poemas musicais. Lendo Silvana,
não há como não cantarolar. A poesia nos
perfura levando a uma autorreflexão. Trata-se de uma poética introspectiva,
intimista, emotiva, que causa uma revolução na alma. A natureza, o amor, o
próprio fazer poético (metapoesia) são recorrentes na sua produção. São poemas
profundos e, às vezes profanos, há que suspirar! “A palavra que tenho na
boca/tudo corta/mastigo o corpo de Cristo/em comunhão se dissolve/salivando
meus pecados”; “não nasci para ser sombria/sóbria/sobra/me entrego ao
entardecer do sol/no céu explode a minha fúria”; “O cão fareja/o chão/ a
parede/ o poste/ eu só farejo teus olhos/que não me olham”;
Eu recomendo a leitura destas duas grandes representantes da poesia
maranhense contemporânea: Luiza Cantanhêde e Silvana Meneses.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Poética. Porto Alegre: Globo, 1966.
HORÁCIO. A arte poética. Porto Alegre: Concreta, 2022.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Anna Liz é poeta, escritora,
mestranda em Língua Portuguesa/Unifesspa
Anna Liz faz uma análise fundamentada, com muita propriedade e bem objetiva. Wanda Cunha
ResponderExcluirObrigada, Wanda!!!
ExcluirMuito grata, Anna, por merecer esse privilégio da admirável poeta que é você. Bj.
ResponderExcluirAnna Liz é poeta, professora e pesquisadora de excelência máxima, por isso e por outras, fico imensamente comovida, grata e motivada com as suas análises sobre a nossa obra, além de lisonjeada em estar ao lado de Silvana Meneses!
ResponderExcluirTrês mulheres poetas que representam de forma encantadora a Atenas Brasileira! Parabéns Anna Liz, Luiza Cantanhede e Silvana! Meus aplausos! Dilercy
ResponderExcluir