SOBRE A OBRA PLANTAÇÃO DE HORIZONTES

 

O livro Plantação de Horizontes (2023), da autora Luiza Cantanhêde, é a quarta obra de sua produção, antecedendo-o Palafitas (2016), Amanhã serei uma flor insana (2018), Pequeno ensaio amoroso (2019). Esse livro está dividido em quatro seções denominadas: “O piso milenar da terra”, “Não aprendi a arar as manhãs”, “As sementes ainda furam desertos” e “As mães plantam fé nas tristezas”; a obra contém 55 poemas distribuídos nessas seções, sendo dez poemas na primeira seção, 15 poemas na segunda seção, 20 poemas na terceira e dez poemas na quarta e última seção.

Sobre a sua temática, podemos dizer que seus versos estão reunidos numa geografia que ultrapassa a paisagem maranhense (babaçuais, casas de taipas, coivaras, roças, igarapés, rios, o mar). Sua poesia vem da alma, da terra, das verdades da vida. Como acentua Ianelli (in Catanhêde, 2023, p. 13): “Terra e alento dessa conjunção se faz um horizonte que Luiza Cantanhêde sabe ser real e metafórico. Horizonte substantivo do chão que sustenta caminhos e aquele que é dado pela ‘lavoura dos sonhos’, os mirantes, as mãos das crianças, o flerte com a aurora”.


                                      Capa do livro Plantação de horizontes - Luiza Cantanhêde

Assim, a poética de Luiza Cantanhêde traz, de forma bastante enfática, a simbologia da terra, da mulher ancestral, do povo negro, dos menos favorecidos, o que arquiteta o seu estar no mundo no plano existencial e político. A sua voz expressa o clamor dessa gente, com uma certa rebeldia. E essa simbiose entre terra e gente (que vive à margem) é o elemento fortalecedor de sua poesia. Sobre essa obra, Rodrigues (2024) afirma: “A poética de Luiza anda nos caminhos do vivido, nas noites que dormem nas calçadas da existência, nas manhãs descalças e com fome. A poeta conhece a ponta dos espinhos e a íris dos invisíveis. Fala por eles, com uma discursividade comovente”. Isso podemos constatar no poema “Amigo secreto”:


AMIGO SECRETO

Meus pés calejados
buscam a infância
como uma penitência
dos perdidos.

As mãos das crianças
a plantar
o caminho.

Abraço os espinhos
e escrevo um poema
para os invisíveis. (Cantanhêde, 2023, p. 64)

 

Nesse poema, há um testemunho, quando a poeta diz: “meus pés calejados/ buscam a infância/ como uma penitência”. O eu lírico elabora a imagem com o vivenciado por ela própria e pelos seus e encerra com uma certeza épica: “e escrevo um poema/ para os invisíveis”.

Portanto, nesse livro, os poemas abordam temas relevantes como a ancestralidade, o antirracismo, entre outros temas, que dão voz aos invisibilizados. A exemplo do poema “a árvore montada de espinhos” (Cantanhêde, 2023, p. 95), em que a autora nos deixa evidente que nada/ou pouco seríamos sem as mulheres que vieram antes de nós, assim “é a partir da mãe – chão, terra, memória – que os instrumentos formais e temáticos da poesia de Luiza Cantanhêde são construídos” (Vilma in Cantanhêde, 2023, 2023, p. 19). Ela traz, nesse poema, a ancestralidade, tema recorrente na produção de mulheres negras, a exemplo de Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Elisa Lucinda, Miriam Alves, entre outras autoras. A produção de Cantanhêde, portanto, é fundamental para a promoção de uma literatura diversa e inclusiva, que amplia as vozes e narrativas das mulheres negras, valorizando a contribuição artística e intelectual dessas mulheres.

 

REFERÊNCIAS

 

CANTANHÊDE, Luiza. Plantação de Horizontes. Guaratinguetá: Penalux, 2023

 

IANELLI, Mariana. Prefácio. In: CANTANHÊDE, Luiza. Plantação de Horizontes. Guaratinguetá, São Paulo: Penalux, 2023.

 

VILMA, Ângela. Apresentação. In: CANTANHÊDE, Luiza. Plantação de Horizontes. Guaratinguetá: Penalux, 2023. 


 

Anna Liz é poeta, escritora,

mestranda em Língua Portuguesa/Unifesspa

Comentários

  1. Duas grandes poetas, Luiza e Anna. Muito bom ler vocês duas.

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  2. Fico sempre comovida com o olhar sensível de Anna Liz,sobre nossa obra! Obrigada!

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