DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE
Em 1972, a Organização
das Nações Unidas - ONU realizou a primeira Conferência sobre o Ambiente
Humano, também conhecida como Conferência
de Estocolmo. No evento, veio a lume uma declaração municiada com 26
princípios e um Plano de Ações que deveriam orientar as atitudes humanas,
atividades econômicas e políticas de forma a garantir maior resguardo ambiental
ao planeta. Em virtude do dia da realização da conferência ter sido 5 de junho, ficou instituído desde
então essa data como o Dia Mundial do
Meio Ambiente. O evento global foi motivado pelos alertas de diversos
estudiosos preocupados com a questão ambiental. Cabe lembrar o surgimento, em
abril de 1968, do famoso Clube de Roma,
em razão da realização de um encontro de trinta especialistas de diversas áreas
- educadores, cientistas, economistas, humanistas, dentre outros - reunidos na Accademia dei Lincei, em Roma, sob a
instigação do empresário industrial italiano Aurelio Peccei, visando a
discussão dos dilemas presentes e futuros da humanidade.
O Clube, também
denominado de “Colégio Invisível”, debruçou-se sobre questões extremamente
pertinentes, examinando o “complexo de problemas que afligem os povos de todas
as nações: pobreza em meio à abundância, deterioração do meio ambiente, perda
de confiança nas instituições, expansão urbana descontrolada, insegurança de
emprego, alienação da juventude, rejeição de valores tradicionais, inflação e
outros transtornos econômicos e monetários”, o que provoca deterioração social.
Hoje, passados quase 60 anos do primeiro encontro do grupo, tais questões
permanecem desgraçadamente atuais.
Os estudiosos chegaram à
conclusão de que existem 5 (cinco) fatores que limitam o crescimento racional
(super-população, produção agrícola, recursos naturais, produção industrial e
poluição). As previsões desalentadoras provocaram declarações preocupantes,
como as do então Secretário-Geral da ONU, U Thant, que, em 1969, afirmou o
seguinte: “não desejo parecer excessivamente dramático, mas, pelas informações
de que disponho...só posso concluir que os membros das Nações Unidas dispõem
talvez de dez anos para controlar suas velhas querelas e organizar uma
associação mundial para...melhorar o ambiente humano, controlar a explosão
demográfica e dar às tentativas de desenvolvimento o impulso necessário. Se tal
associação mundial não for formada...então será grande o meu temor de que os
problemas que mencionei já tenham assumido proporções a tal ponto
estarrecedoras que estarão além da nossa capacidade de controle”. Hoje, essa
reflexão sobre a possibilidade de fuga do controle da situação pode ser
resumida numa expressão bastante usada ultimamente: ponto de não retorno (conceito que diz que existe um limite
além do qual seria impossível qualquer sistema retornar ao seu estado
anterior).
Outro grande passo em
termos de alerta global para o assunto em tese foi deflagrado em 1987, por
intermédio do chamado Relatório Bruntland. Esse documento foi elaborado pela Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU e
presidida pela então Primeira-Ministra da Noruega, Gro Bruntland. No varejo, o
relatório exercitou uma visão crítica sobre o modelo de desenvolvimento adotado
pelas nações industrializadas e imitado pelos países em desenvolvimento, no
qual o uso excessivo dos recursos naturais foi denunciado como prática daninha,
pois tal procedimento não leva em conta a capacidade de sobrevivência e de
recuperação dos ecossistemas. Esse famoso Relatório
inaugurou o termo desenvolvimento sustentável, definido como um modelo que
“satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras
gerações de satisfazer as suas próprias necessidades”.
Cinco anos depois, em
1992, foi realizada no Rio de Janeiro a famosa ECO-92, evento global que produziu, além da sensibilização das
sociedades e das elites políticas, alguns documentos oficiais fundamentais: A Carta da Terra, a Agenda 21, um dos principais resultados
da conferência, documento que estabeleceu a importância de cada país se
comprometer em refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos,
empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade
poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais. Da
ECO-92 surgiu também a Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - CQNUMC, tratando das mudanças
climáticas globais. Da assinatura dessa convenção, que entrou em vigor em 1994,
foi estabelecido um quadro para ações internacionais sobre mudanças climáticas,
e daí surgiu a Conferência das Partes
(COP), evento anual que reúne países para discutir a questão ambiental e
encontrar “medidas para combater as mudanças
climáticas, avaliar o progresso das políticas ambientais e definir novos
compromissos para a redução de emissões de gases de efeito estufa”.
Neste ano, será realizada aqui no Brasil, em Belém, a COP-30. Infelizmente,
tais alertas e promessas de ações a serem feitas têm sido jogadas repetidamente
para escanteio pelos líderes mundiais, o que vem colocando o planeta numa
desagradável e apocalíptica sinuca de bico.
No rol das tentativas de
salvaguardar o meio ambiente, cabe citar Os
Objetivos do Milênio - ODM, metas estabelecidas pela ONU no ano 2000, com
apoio de 191 nações. Dentre as metas, destaca-se a “garantia da qualidade de
vida e o respeito ao meio ambiente”. Essas determinações foram ampliadas pela
própria ONU, através de outro documento, que se conhece hoje como Objetivos do Desenvolvimento Sustentável -
ODS. O objetivo 14 prevê a “conservação
e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o
desenvolvimento sustentável”. Por sua vez, o Objetivo 15 adverte que é preciso
“proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres,
gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e
reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”.
Complementando, “fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável” é a meta do Objetivo 17.
Dando prosseguimento às
discussões sobre questões ambientais, cabe citar o Protocolo de Kyoto, tratado complementar à Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima, documento gerado na ECO-92, primeiro acordo
juridicamente vinculante que estabelecia metas de redução de
emissões de gases para os países desenvolvidos (causadas pelas indústrias, por
veículos a combustível fóssil, etc.) e os que, à época, apresentavam economia
em transição para a industrialização, considerados os responsáveis históricos
pela mudança atual do clima. Criado em 1997, o Protocolo entrou em vigor no dia
16 de fevereiro de 2005, logo após o atendimento às condições que exigiam a
ratificação por, no mínimo, de 55% do total de países-membros da Convenção que
fossem responsáveis por, pelo menos, 55% do total das emissões medidas no ano
de 1990.
Vale
ressaltar o comprometimento da igreja católica com a questão. Basta citar a já
histórica Encíclica "Laudato Si”,
publicada em 2015 pelo falecido Papa Francisco, antes do Acordo de Paris, cuja
essência reside na ideia de que "tudo está conectado". Com
proposições antenadas com o pensamento ambientalista atual, a Encíclica afirma
que “a humanidade e a natureza são partes de um mesmo todo, e a degradação
ambiental tem impactos sociais, econômicos e espirituais”. O texto cobra ainda
a “responsabilidade coletiva na preservação do planeta, incentivando um olhar
ecologista integral e ações para mitigar as mudanças climáticas, promover a
sustentabilidade e garantir um futuro para as próximas gerações”.
O Acordo de Paris foi mais uma tentativa de elaboração de propostas
para salvar o planeta, e surgiu na COP 21, em 2015, na França; estabelecia um
acordo que visava limitar o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2
graus Celsius, com o objetivo de se alcançar 1,5 graus Celsius. Esse é um
acordo também juridicamente vinculante, “significando que os países signatários
têm o dever de cumprir os compromissos assumidos” na Conferência. Aprovado pelos 195 países integrantes da CQNUMC,
o documento cobrou a redução das emissões de gases de efeito estufa no contexto
do desenvolvimento sustentável.
A degradação da natureza,
perpetrada pela espécie humana, tem relação direta com a desordem espiritual do
próprio homem. O físico David Bohm (1917 / 1994), mistura Caósmica de cientista
e filósofo, no seu livro A Totalidade da
Ordem Implicada, afirma que a fragmentação do indivíduo e da sociedade é um
erro crasso que “vem ocasionando a poluição, a destruição do equilíbrio da
natureza, a superpopulação, a desordem política e econômica em escala mundial,
e a criação de um ambiente global que não é saudável”. Bohm foi um visionário
que engendrou um novo paradigma, estruturado na ideia de que qualquer coisa
existente abriga dentro de si a totalidade do Cosmos, entendido como amálgama
indissociável entre matéria e consciência, o contrário da fragmentação
detectada.
É o que nos falta neste
momento, consciência crítica, a centelha de luz coletiva que talvez nos salve
da destruição iminente. Apostar nessa possibilidade pode ser a única tábua de
salvação na aventura existencial da destrambelhada espécie humana neste planeta.
Voltaremos a escrever sobre a temática ambiental neste espaço antes da
realização da COP-30, inclusive abordando questões polêmicas já criadas neste
ano aqui no Brasil em relação ao assunto, para ampliar a reflexão sobre esta
pauta crucial para a sobrevivência do planeta.
Paulo Melo Sousa é
poeta, jornalista, professor,
membro da Academia Ludovicense de Letras e presidente
da Academia Alcantarense de Letras, Ciências, Artes e Filosofia - ALCAF
Texto maravilhoso! Parabéns, Paulo!
ResponderExcluirExcelente!. Disse tudo.
ResponderExcluirSempre límpida e esclarecedora a sua fala, querido ... BRILHANTE ao mencionar 2 pontos( que são um só):
ResponderExcluir1."A degradação da natureza, perpetrada pela espécie humana, tem relação direta com a desordem espiritual do próprio homem."
2...."É o que nos falta neste momento, consciência crítica, a centelha de luz coletiva que talvez nos salve da destruição iminente."
SE... a "centelha de luz coletiva" for PURA, AUTÊNTICA E FRANCA...todo o resto se tornará BENDITO,e portanto, salvo do erro que ameaça o planeta.
PARABÉNS PELO TEXTO!!!
E QUE HAJA REFLEXÃO COLETIVA.
Excelente texto
ResponderExcluirUma verdadeira LINHA DO TEMPO na questão do MEIO AMBIENTE !!!
🌎✨ Que honra e orgulho ler esta coluna assinada por meu irmão, Paulo Melo Sousa — um texto que vai muito além de uma simples análise ambiental: é um verdadeiro manifesto de consciência planetária.
ResponderExcluirCom uma escrita firme, profunda e embasada, Paulo percorre décadas de história, decisões políticas e reflexões filosóficas para nos lembrar de algo essencial: não existe futuro viável sem responsabilidade ecológica, social e espiritual.
A conexão que ele faz entre o desequilíbrio ambiental e a fragmentação do ser humano é, ao mesmo tempo, perturbadora e necessária. É leitura que nos sacode e nos convoca a repensar hábitos, prioridades e propósitos — individuais e coletivos.
Parabéns, meu irmão! Que essa coluna ecoe em muitas mentes e corações, e que siga sendo um espaço de reflexão crítica rumo a um mundo mais lúcido e sustentável. 💚🌱
Seguimos atentos e esperançosos rumo à COP-30 — e ao despertar de uma nova consciência. Silvana Sousa
O texto nos faz refletir acerca da vida, e como as cúpulas empregam seus olhares sobre um tema tão sensível e essencial. Apesar das inúmeras tratativas e promessas, ainda não conseguimos chegar ao tão almejado "denominador comum".
ResponderExcluirBelém está bem aí, vamos aguardar!