ENCONTRO COM A FELICIDADE
Felicidade ou morte,
ao invés de Independência ou Morte, por exemplo, é o título de um livro de
autoajuda de muito sucesso.
Portanto, caro
leitor, “Seja feliz ou morra” parece até ordem de alguma autoridade constituída
deste país, sob pena de acabar na cadeia ou pagar mais imposto de renda, o que,
convenhamos, é ruim, mas ainda é preferível a morrer.
E agora? Tem mesmo
certeza de que vale a pena ser feliz, caro leitor?
Para resolver essa
parada fomos encontrar a Felicidade. Ela própria, em pessoa. Estava pronta para
desabafar.
- Não aguento mais.
- O quê,
precisamente, Dona Felicidade?
- Tanta gente atrás
de mim. Tanta procura, tanta adulação, pensei que isso fosse acabar depois da
Pandemia. Essa gente acha que virei o único remédio para as mazelas do mundo. E
o pior é que sequer se dão ao trabalho de querer saber quem sou.
- E quem você é?
- Isso é o que eu
gostaria de saber. Todos tentaram explicar em vão: filósofos, religiosos,
cientistas... Se felicidade é isso que todo mundo pensa que eu acabei sendo,
desconfio de que eu mesma nunca fui feliz e jamais serei.
- Se a Sra. me
permite, essa melancolia abate depressa pessoas sensíveis como a senhora.
- Se fosse apenas
isso... A questão é que, mesmo sem saber quem sou, de repente, me julgam capaz
de resolver todos os problemas do mundo. Até das mortes. Ora, eu não sou Deus!
Definitivamente, estou possessa com tudo isso!
-Poxa, dona
Felicidade! Não sei o que dizer.... Talvez... Bem, só me resta sugerir...
- O quê, pelo amor
de Deus!
- Que tal procurar
um analista, Dona Felicidade? Isso pode ser depressão.
- Jamais! Conheço-os
muito bem: eles me usam como se eu fosse vacina. Dizem: “Procurem dona
Felicidade, ela resolverá seus problemas”. Ora, para que servem então?
- Hei de convir que
a Sra. tem razão. Só desejaríamos que, pelo menos, a Sra. continuasse feliz,
para o bem da humanidade. Senão...
- E quem lhe disse
que me incomoda ser infeliz? Acredite, com tanta gente falando asneira a meu
respeito, até que gostaria de ser infeliz, só para que me deixassem em paz,
compreende? Estou prestes até a adotar um lema para mim: infelicidade ou morte!
José Ewerton Neto é poeta, escritor, membro
da Academia Maranhense de Letras
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