O RETRATO DO PODER
quando
a parede vira palanque
Uma tradição antiga e ultrapassada ressurge nas administrações do
governador do Maranhão, Carlos Brandão, e do prefeito de São Luís, Carlos
Braide. A tradição de pendurar retratos emoldurados em hospitais, secretarias e
prédios públicos — como se fosse selo de qualidade — virou alvo de ação
popular. Essa ação foi ajuizada pelos advogados Gilmar Pereira Santos e Josemar
Pinheiro em 27 de junho de 2025, perante a Vara de Interesses Difusos e
Coletivos de São Luís.
Os retratos emoldurados do governador e do prefeito estão espalhados por
hospitais, secretarias e repartições públicas. O caso torna-se ainda mais grave
ao se considerar que os hospitais são frequentados por grande número de
cidadãos em situação de vulnerabilidade que buscam atendimento médico, o que
potencializa o alcance da exposição indevida e o favorecimento político do
gestor público.
Entretanto, os retratos dos gestores — pendurados em locais de grande fluxo
popular, como o Hospital Tarquínio Lopes, o Centro de Saúde da Vila Embratel e
o Hospital do Itaqui-Bacanga — são uma estratégia de marketing político, um
culto à personalidade, afirmam os autores.
A escolha de locais reformados ou inaugurados — evitando deliberadamente
hospitais precários ou lotados — evidencia que a conduta dos gestores públicos
foi estrategicamente planejada para maximizar sua visibilidade política,
desvinculando-se da finalidade institucional dos bens públicos.
O governador e o prefeito, em suas defesas, alegaram que os retratos são
apenas “símbolos protocolares” e “identificação funcional”, uma espécie de
crachá ampliado. Mas os autores da ação popular rebatem: se fosse só isso,
bastaria um crachá no peito, como fazem os servidores públicos.
A tradição não pode justificar o abuso, pois, como ensina o adágio popular,
“é o uso do cachimbo que faz a boca torta”.
Com base em jurisprudência do STF, do STJ e em ações exitosas em estados
como Goiás e Ceará, os autores pedem a retirada imediata das imagens e a
proibição de novas afixações; pleiteiam ainda tutela de urgência, pois a cada
dia com os retratos nas paredes é um dia a mais de afronta à Constituição. E
que o verdadeiro símbolo do Maranhão não seja o rosto de um gestor, mas o
brasão, a bandeira, o hino e a dignidade do seu povo.
A ação mergulha na história, compara o culto à personalidade com regimes
autoritários — que vão de Getúlio Vargas a Stalin — para mostrar que a prática
de afixar retratos não é apenas ultrapassada: é inconstitucional. E mais: é
imoral, pois usa dinheiro público para promover figuras que já são amplamente
conhecidas.
O que se vê é uma estratégia de visibilidade política, uma campanha
silenciosa que se alastra pelas paredes dos hospitais e dos prédios públicos.
O governador e o prefeito deveriam limitar-se a afixar suas fotografias
emolduradas exclusivamente no interior das sedes palacianas. Em vez disso,
optam por expor suas imagens em repartições públicas e hospitais.
A ação popular denuncia a violação dos princípios da impessoalidade e da
moralidade administrativa, previstos no artigo 37 da Constituição Federal. E
mais: configura desvio de finalidade, pois transforma espaços públicos em
vitrines eleitorais.
No fim das contas, o que está em jogo não é apenas uma fotografia, mas o
respeito à Constituição, à ética pública e à inteligência do povo maranhense.
Porque, como bem argumentam os autores, o Estado é de todos — e não de quem
está temporariamente no poder.
É o direito de dizer que o poder é do povo — e não de quem temporariamente o representa. Porque, como bem citam os autores: “Fora da lei, não há salvação.”
Gilmar Pereira Santos é advogado e escritor de livros
infantis
Com certeza, estou diante de textos de advogados brilhantes, cujas contestações são, via de regra, inquestionáveis.
ResponderExcluirOs políticos também usam a frase de praxe, A propaganda é a alma do negócio.
O texto acima tem a minha assinatura Alberico Carneiro
ResponderExcluirConheço,o Nobre advogado e escritor, poeta e romancista,o grande baixadeiro, Sr Gilmar Pereira.
ResponderExcluirÉ um abuso de poder! Sua denúncia é justa e necessária!
ResponderExcluirConheço o meu amigo advogado,escritor,poeta.
ResponderExcluirDr Gilmar Pereira Santos.
Pois ele é um guerreiro lutador pelos os direitos.
E enquanto os politicos só pensam em orgias.
Quando vejo as drogas passando pela cabeça de um povo, deixando as suas mentes em pedaços, os colarinhos brancos brindados navegando em rios de dinheiro e impunidades, os pobres navegando em mar de misérias inflações e direitos retirados, os países dizimando outras nações, para o propago de outros poderes, se superiorizar-se no mando da humanidade.
ResponderExcluirEnquanto o povo espera leito, o gestor já garantiu o seu: na parede, com moldura dourada.
ResponderExcluirIsso aí
ResponderExcluirDr. Gilmar, que texto brilhante! 👏 A forma como o senhor expôs o tema, com tanta clareza e firmeza, mostra não só conhecimento jurídico, mas também sensibilidade e compromisso com a justiça e com o povo maranhense. Uma escrita que inspira e nos enche de orgulho
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